PIÚMA: delegado prende dono, segurança e funcionários de um Espaço Terapêutico suspeitos de sequestro, cárcere privado e maus tratos

Cinco pessoas foram presas em Piúma, estavam em um Espaço Terapêutico, de suspeitos de prática de sequestro, cárcere privado, maus tratos e porte ilegal de arma. Três internos foram a delegacia contar como ocorricam as suspostas práticas delituosas.

O delegado David autuou o proprietário do Espaço Terapêutico, seguranças e funiconários suspeitos dos crimes de sequestro, lesão corporal, porte de arma e cárcere privado – Fotos: Luciana Maximo

Um centro terapêutico que funciona no bairro Acaiaca, em Piúma, foi alvo de uma denúncia grave, na Polícia Civil, com a prática de sequestro, cárcere privado, lesão corporal e porte ilegal de armas. Denúncia ocorrida na tarde desta quinta-feira, 30. O delegado, David Gomes Santana, de posse das informações, foi ao local e abordou, em flagrante, um dos proprietários, seguranças do Espaço e funcionários, conduzindo-os à delegacia. Dois internos e uma ex-interna que detalharam tudo o quê viviam no local.
De acordo com o delegado David, a denúncia chegou nesta quarta-feira, 30, por intermédio de uma mulher que é companheira de uma das vítimas internas. “Teve uma nacional aqui, aos prantos, na Delegacia de Polícia, bastante desesperada e descontrolada, afirmando que o companheiro foi sequestrado por uma equipe de pessoas de uma suposta clínica de recuperação, que estava em posse de arma de fogo, e que o levaram para a clínica contra a vontade, mediante ameaça e agressões. Nos dirigimos ao local e fizemos contato com esta suposta vítima, ela relatou que estava no local contra a vontade, a pessoa estava até tendo dificuldade para falar, havia sido sedada, também contra a vontade, e havia sido lesionada há alguns dias atrás. Estava com a lesão bem aparente, no rosto, e a lesão tinha sido feito por funcionário daquela clínica. Momentos depois recebemos outra interna lá, que relatou estar sem se alimentar desde a hora do almoço, e foi espontaneamente ao local, e na data de hoje estava sem se alimentar como uma medida de castigo da clínica”, disse.
Em tempo, o delegado ressaltou que já vem recebendo denúncias deste mesmo Espaço Terapêutico por meio da Secretaria Estadual de Segurança Pública e através do disk denúncia 181, informando que na clínica ocorrem diversas agressões contra os pacientes, com uso de spray de pimenta para contê-los, pacientes são amarrados e as maiores barbaridades que se pode ouvir e outras que ainda estão em investigações. “As investigações tiveram início hoje e, com esta denúncia vamos apurar e tomar as providencias”.
As cinco pessoas conduzidas à delegacia foram encaminhadas ao Centro de Detenção Provisória – CDP de Marataízes e a segurança foi levada ao Presídio de Cachoeiro de Itapemirim onde ficará à disposição da Justiça.

Internas de castigo, ficou sem se alimentar

Uma segurança do Espaço Terapêutico teria dado uma surra em uma interna com esta toalha

A Reportagem foi à delegacia e lá conversou com uma interna que acabou deixando o local, após a chegada da polícia. Ela pediu anonimato, pois teme por sua vida.
De acordo com a interna, ela foi para o Espaço por decisão própria, acertada entre a família, mas não esperava viver o horror que viveu no período que esteve no local. Viu internos sendo agredidos.
De poucas palavras, a interna preferia ficar no quarto e na dela, já que o Espaço não oferecia muitas opções, além de uma mesa de totó e uma de sinuca para recreação, remédios receitados por um psiquiatra, café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. Depois que limpava o quarto, ela optava por permanecer nele, sem muitas conversas.
Estava tentando, há dias, se comunicar com a família, mas sempre havia uma desculpa. “Não havia regras estipuladas. Eu fui perguntar se o café já ia ser servido, acabei sendo castigada, fiquei o dia todo trancada e sem me alimentar. Eu sabia que a segurança estava prestes a partir pra cima, ela não precisava de motivos para agredir as pessoas. (Hoje – ontem) pela manhã esta mesma segurança teria dado uma surra em uma interna com uma toalha dobrada e um nó. Ela andava armada, era melhor não encarar”, disse.
A interna disse que se apegou a Deus para sair da casa, já que não conseguia falar com a família. Ontem, quando viu a Polícia Civil chegar, respirou aliviada. Do quarto, ela pôs os pés entre as grades na janela para que fosse vista pela policial, estava de castigo, não podia sair. “Deus já estava agindo, eu tentei colocar meus pés mais para fora, olhei da grade, a policial não me via, depois ela passou e seguiu, eu fiquei olhando, eu pensei, hoje eu vou sair daqui. Mas ela foi e depois voltou e eu disse: Deus existe, obrigada senhor, ouviu as minhas orações”.
Segundo a interna não tinha motivo para as agressões, uma segurança do Espaço, simplesmente ao ouví-la perguntar se o café estava pronto, a mandou que não saísse do quarto. E como vingança iria ficar sem comer o dia todo. A interna já estava estranhando o fato de não poder falar com a família, há mais de um mês, e via como os pacientes eram tratados, preferia ficar no quarto, sem diálogo com ninguém para evitar ser agredida.
Na data desta quinta, uma outra paciente acabou levando uma surra com uma toalha rasgada e dobrada, com um nó, seria para ensiná-la a se comportar, contou a interna que continuou, tanto o proprietário quanto a segurança andavam armados o tempo todo e o medo imperava lá dentro.

Um dos proprietários, seguranças e funcionários foram levados à Delegacia de Piúma onde foram autuados

Spray de pimenta


Outra interna que acabou deixando o local com a chegada da Polícia falou rapidamente ao jornal. Disse que não aguentava mais ficar no espaço. Chegou a ser amarrada, pés e mãos. Disse que viu outros internos sendo amarrados e levando spray nos olhos. “Eu não via a hora de sair de lá. Você não tem noção do que eles fazem lá dentro. Isso aqui não é lugar de gente, tem uma segurança que bate muito, é muita porrada”.

Alvará

No Espaço foi apreendido um spray de pimenta e cinco pessoas acabaram sendo autuadas. 20 internos estavam no Espaço Terapêutico. As investigações vão continuar.
Convém ressaltar que o local possui alvará de licença da Vigilância Sanitária e da fiscalização da Prefeitura. Tem enfermeiro responsável e psicólogo que acompanham os trabalhos, um médico psiquiatra que prescreve os medicamentos. Contudo, segundo o delegado David Gomes Santana, nenhuma pessoa pode ser internada a força sem a sua autorização, a não ser internação compulsória com ordem judicial. O fato de possuir licenças não dá o direito de maus tratos, ou castigos, muito menos lesão corporal. O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil.
O Espaço foi procurado para explicar a denúncia de sequestro, cárcere privado, maus tratos e porte ilegal de arma, mas não enviou nota de esclarecimentos e não quiseram gravar no momento que a Reportagem esteve no local, logo após a saída da PC.

Uma das proprietárias limitou-se a dizer que a denúncia não procede, pois quem a fez é dependente química, e o homem que seria o companheiro desta informante, teria sido removido para o Espaço e durante a remoção ele foi imobilizado, mas não fora agredido e nem ameaçado. O espaço do jornal está aberto caso os proprietários queiram explicar a denúncia e a ação da polícia.

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1 comentário

  • Homero Martins Moulin disse:

    Esses casos estão acontecendo porque há um descaso do Governo do Estado, Prefeitos… que não estão disponibilizando vagas para doentes mentais, e os familiares não tem como conte-los, pois alguns são agressivos e não tem como a família cuidar. Em Cachoeiro de Itapemirim a Clínica Santa Isabel fechou e no Caapac não exitem vagas.

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