OPINIÃO: O Texto e a interpretação, “saiu para espairecer”

O texto que segue é de opinião da jornalista que explica como interpretar a notícia que ela fez em forma de retratação.

Eu sei que interpretar texto não é para todos, afinal de contas requer algumas competências, falo isso, com base na formação que tenho, uma vez que, analisei não menos que 9 vezes a obra machadiana “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, na época do curso de Letras. Fiz infinitas análises da obra Vidas Secas de Graciliano Ramos.

Bem, é claro que, o leitor de jornal não precisa ter formação nenhuma para compreender uma notícia, visto que, a técnica da produção textual segue um lead básico, onde o repórter/jornalista – ou redator responde a apenas algumas perguntas e a notícia já satisfaz o leitor no primeiro parágrafo. O quê, quem, como, onde e quando?

Mas, o assunto aqui é a notícia do desaparecimento do morador do bairro Nova Esperança que teria desaparecido de casa, sem dizer para onde foi.

O caso em questão é, de onde veio a informação repassada ao jornal? Bem, todos já sabem que a ex-companheira dele estava mesmo desesperada com o sumiço do ex-marido.

É necessário que fique bem claro aqui, que, não estamos para julgar, nem o Fábio, nem a ex-companheira, e sim, vamos nos ater ao texto.

Geralmente, quando uma pessoa desaparece e não dá notícias, logo a família pede ajuda para encontrar e, o jornal, é sempre acionado. “Luciana esse é meu ex-companheiro, está desaparecido desde sábado, tem 49 anos”…

A mensagem repassada ao celular da jornalista prossegue dizendo o nome completo, onde mora, quando saiu de casa e etc e tal.

Para fazer uma notícia é mesmo necessário juntar muitas palavras e montar o quebra cabeça. Não é só ter início, meio e fim. É preciso coesão, coerência, objetividade e nunca cometer a prolixidade.

Entretanto, quando uma notícia se refere à uma pessoa que desapareceu, logo perguntamos: a pessoa que sumiu estava vestida como? Quando saiu de casa, levou algo? Estava sendo ameaçada? Usa medicamentos controlados? Tem problemas com dependência química, devia a alguém? Sofre com depressão? São perguntas de praxe, e é evidente que a ex-companheira, preocupada com o ex-companheiro a qual ela tem muito zelo, respondeu ao jornal.

Tão logo a notícia foi publicada, o homem apareceu, graças a Deus. Imediatamente nos foi solicitado a retirada da matéria a informação de que o desaparecido era dependente químico, assim o fizemos e retiramos. Em, seguida nos pediram para excluir a publicação. E assim foi feito.

Agora, fomos procurados para fazer uma retratação dizendo que a pessoa não tem problemas com dependência química. Que ótimo, ficamos felizes em saber que ele não sofre com esta doença, pois a dependência é uma doença séria que exige tratamento e, sem dúvida, qualquer pessoa que tenha uma dependência, seja de cigarro, álcool, medicamentos, que também são drogas, traz com ela uma dor, um sofrimento que, infelizmente, não é fácil de se livrar.

Eu já fui dependente de cigarros, uma droga lícita e sei que, para me livrar CLAMEI a Deus em choro pedindo que me afastasse desta droga.

Infelizmente, vivemos numa sociedade que julga as pessoas, que cria rótulos e nega oportunidades. O Paulo, o João, as Marias, os Josés, e milhares de pessoas sofrem com dependência. O que devemos na verdade é amar estas pessoas, estender as mãos e oferecer ajuda. Eu, sempre que vejo alguém fumando, falo que Deus pode libertar qualquer um de qualquer vício.

Voltemos ao texto de hoje e vamos ajudar a interpretá-lo, à aqueles que estão com as mãos cheias de pedras para condenar e apedrejar a jornalista e o jornal.

“O Jornal “Espírito Santo Notícias” se equivocou ao fazer a publicação da nota do suposto desaparecimento de Fábio Júlio Batista Mendonça. Ele não estava desaparecido, havia saído de casa para espairecer”.

Vejam que, o texto diz, O JORNAL SE EQUIVOCOU AO FAZER A PUBLICAÇÃO DO SUPOSTO DESAPARECIMENTO DO FÁBIO… O que significa afirmar que, o Fábio não estava desaparecido, havia saído para espairecer, segundo ele.

E continua o texto: “Na ocasião, o Jornal disse que Fábio era dependente químico, o que não procede, segundo ele”.

Mais uma vez, a informação é SEGUNDO ELE. Ele nega que seja dependente e nós não temos o direito de afirmar, nem de julgá-lo se acaso o fosse, porque a vida é dele.

Prossegue o texto: “Fábio falou com o jornal que nunca

usou nenhuma substância alucinógena e está bem”.

Ora ora, ele pode falar o que ele quiser, até dizer que jamais bebeu Coca-Cola. O jornal vai reproduzir ipsis litteris à fala dele que solicita ao jornal que diga. 

O texto finaliza ainda com a afirmação. “A família esclarece que Júlio saiu de casa uns dias para espairecer, mas voltou logo assim que descobriu que estavam à procura dele”.

Pronto, se Júlio voltou e está bem, estamos felizes e agradecidos a Deus por ele estar bem. E, se precisar de nós, estamos aqui. E por falar em precisar, estamos aqui sempre que você precisar, seja para o que der e vier. Um buraco na rua, falta de água, esgoto vazando, cachorro desaparecido, a um acidente ou um crime altas horas. Nosso de negócio de fato, é notícia.

E que, 2023 venha repleto de respeito, tolerância, menos julgamentos, que o ódio desapareça de nossas vidas, que o preconceito ceda lugar ao amor ao próximo e que tenhamos serenidade. Se erramos em trazer a notícia, erramos porque fomos procurados, o que não nos diminui em hipótese alguma em pedir perdão. Que Deus nos proteja das línguas ferinas e de todo mal.

Compartilhe nas redes sociais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicidade