MORREU O CHICO DA ESQUINA

Crônica de José Alberto Valiati

No sul de um país sul-americano, havia uma cidade denominada Avelin e como é comum, ali também tinha um número acentuada de moradores de rua. Numa das esquinas da zona urbana tinha uma escada que era usada como “casa” por um tal de Chico da Esquina. Do outro lado morava uma família de classe alta, porém três membros da mesma careciam de transplante de coração, fígado e rins. Mesmo que tinham uma situação financeira confortável, não conseguiam os procedimentos. Chico, sempre calado, não contava pra ninguém a razão de viver daquela forma. Um dia, com muita fome, abordou o homem rico e lhe pediu um marmitex. Foi mesmo que mexer com uma casa de marimbondos. O cidadão, do alto de sua arrogância, esbravejou dizendo: saia de minha frente seu moribundo, vai procurar serviço seu infeliz. Eu tenho três pessoas em casa na fila de transplante de órgãos e você vem me incomodar? Pra não me chamarem de ruim, tome um real, compre um pão e nunca mais me interpele na rua! O tempo foi passando, Chico perambulando, o homem rico o ignorando e a situação dos doentes se agravando. Chico, todas as manhãs, andava pela cidade a procura de comida e sempre carregava uma pequena pasta encardida. À noite, como era de costume, tomava banho no rio que cortava a cidade. Uma certa noite deu um forte temporal e o local onde Chico dormia foi inundado. Chico, na tentativa de atravessar a rua a procura de abrigo foi atropelado por uma caminhonete que coincidentemente era do homem rico desta história e morreu instantaneamente. Ele estava levando seus familiares ao hospital, pois não estavam bem. Parou o carro esbravejando como sempre e constatou que Chico estava morto. Ligou para a Funerária e esta levou o corpo com a promessa do homem rico arcar com as despesas do sepultamento. Ao trocarem a roupa do falecido, encontraram a pastinha. Abriram-na na esperança de encontrar algum nome da família e em seu interior havia um manuscrito acompanhado de uma carteirinha de doador de órgãos. No papel lia-se: ” Minha esposa e meu filho morreram na fila de espera aguardando um doador órgãos. Ao lado de minha morada, três pessoas de uma família também aguardam um transplante para continuar vivendo. Se eu vier a morrer, peço encarecidamente que meus órgãos sejam usados para salvar os meus vizinhos”. A notícia foi destaque nos meios de comunicação da cidade e o comentário que tomou conta da região era que morreu o Chico da Esquina, mas salvou a vida de três enfermos. Fica a dica: “nunca despreze o seu semelhante”. E o homem rico? Ah, o homem rico? Mudou de vida transformando-se num homem solidário no auxílio aos moradores de rua da cidade e construiu um albergue para eles colocando o nome de Chico da Esquina no alojamento. Aqui pra nós: eu tenho a impressão que o Chico provocou sua morte para salvar as vidas dos três vizinhos. Sei lá, talvez é impressão minha. Será???

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