ARTIGO: A formação de leitores literários

*por Lilian Menenguci (foto principal)

Abril, cujo nome deriva do latim ‘aprilis’, que significa abrir, referência à germinação de culturas, quarto mês do calendário gregoriano, é marcado por três datas emblemáticas que circundam o universo do livro, da leitura e da literatura. 

Nele, o Dia Mundial do Livro Infantil (2), em homenagem ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen; o Dia Nacional do Livro Infantil (18), em referência ao autor brasileiro Monteiro Lobato – sob leitura crítica e contemporânea; e o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor (23), em alusão ao falecimento dos escritores Miguel de Cervantes e William Shakespeare. 

O patinho feio, A menina do narizinho arrebitado, Dom Quixote, Romeu e Julieta, obras assinadas pelos autores celebrados, ambos do gênero masculino, se constituem pontos importantes para pensar, além do lugar da mulher na produção literária, a presença do livro na vida cotidiana, a implicação da criadora e do criador de textos, o papel da mediação literária e a formação da leitora e do leitor, na contemporaneidade. Afinal, com tantas datas comemorativas, como garantir a presença de pessoas convidadas para festejar?

Quando o assunto é formar leitoras e leitores, desde a mais tenra idade, é preciso olhar para o enxoval de uma criança. Quando uma família engravida, o cuidado com o enxoval é uma das primeiras coisas pensadas para a criança que está a caminho. Um conjunto de objetos e itens essenciais são lembrados: babador, fraldas, meias, óleo para massagem, mordedor, pentes, escovas, sabonete neutro, toucas, entre outras coisas. Raramente um livro de literatura infantil entra nesse pacote. O papel da pessoa adulta, no mês do livro infantil e em todos os dias dos anos – em casa, na escola, na biblioteca e em diferentes espaços e tempos da vida – é mediar o encontro da criança com esse objeto cultural. 

Outro bom convite festivo é dispensar tanto o caráter moralizante, por vezes relacionado às histórias para crianças, quanto abandonar o didatismo utilitário que, volta e meia, sacrifica o mais potente e encantador da arte literária para as infâncias: a produção de sentidos por parte daquela ou daquele que lê, para quem ou com quem se lê. Isso vale para autoras, autores e para quem escolhe e apresenta livros para as pequenas e os pequenos. 

Logo, importa, sim, a semeadura de uma literatura infantil que, singular e múltipla, diversa e inclusiva, se apresente como potência criativa e criadora; como templo de fruição literária; como elemento estético capaz de ampliar o repertório da leitora e do leitor de todos os tamanhos, e principalmente de gente grande. Isso, mesmo! É a tal ‘gente grande’ que tem como função abrir o leque da produção humana, ser referência de culturas e ser esse semeador contumaz. Condição, como já cantou Bituca, “[…] e há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e fruto”. Cultivemos o direito às culturas das infâncias. Garantamos o direito ao livro e à leitura literária para as crianças. 

*Lilian Menenguci, Escritora e Professora Drª em Educação

Compartilhe nas redes sociais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *