Diversidade será comandada, no ES, pela assistente social, Babarah Brasil, que milita nas causas LGBTQIA+, há tempos

A coordenação da Diversidade, na Secretaria Estadual de Polítias Públicas para Mulheres, estará nas mãos da militante e ativista LGBTQIA+, Barbarah Brasil.

Historicamente, os espaços sempre foram negados para a população LGBTQIA+, em especial pessoas trans e travestis. Ter uma mulher trans num espaço de destaque, representando e construindo políticas públicas para mulheres LBT, é um marco no Espírito Santo. Agora tem!

A assistente Social, militante e ativista LGBTQIA+, há mais de 20 anos, Barbarah Brasil, 39 anos, assumiu a coordenação da Diversidade da Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres, e vai ser a primeira mulher trans a comandar o setor, que tem como principal objetivo, o de construir uma política de diversidade sexual e de gênero, no Espirito Santo, além de desenvolver políticas públicas específicas para mulheres trans e travestis.
Orgulhosa de representar a comunidade aonde vive, Féu Rosa Serrana, Barbarah Brasil falou com exclusividade ao Jornal “Espírito Santo Notícias”. Formada em Assistente Social, é secretária municipal do seguimento LGBTQIA+ do PSB, da Serra, militante de causas minoritárias, fundadora/presidente da Escola de Samba “Acadêmicos da Grande Jacaraípe”, onde desenvolve projetos para a população LGBT, há seis anos. Barbarah ressaltou que já traz toda diversidade nela mesma, mulher negra, trans e de matriz africana.
Como quase toda mulher trans, Barbarah teve uma trajetória de vida difícil e sem esconder as origens, ela diz que, também caiu no submundo da prostituição, por falta de portas abertas. “A primeira porta que se abre, onde a gente acha um caminho. Antigamente existia apenas um caminho, você se identificou como mulher trans e assumiu esta posição, a primeira porta que era aberta e que a gente via possibilidade era a prostituição, não tem jeito. Eu passei por isso também, como muitas passaram e algumas passam até hoje. Eu passei por isso porque a gente precisa sobreviver, e a gente precisa garantir a nossa sobrevivência, e a porta que era aberta. Passei por isso, mas sempre fui ligada à cultura, já ministrei curso em projetos sociais, na prefeitura da Serra, como voluntária. Eu sempre trabalhei a arte, a cultura de forma voluntária, porque eu amava fazer, principalmente, na época de festas juninas. Depois migrei para o carnaval capixaba. Assinei em 2005 e 2006 o meu primeiro carnaval pela “Tradição Serrana”. Eu até falo, eu fui a primeira mulher carnavalesca do ES, porque até então, o carnaval só era criado por homens. Ali eu já quebrei um marco”, relembrou.
As questões sociais que Barbarah se envolve, nascem nesta época que se destaca como carnavalesca e defensora da arte e da cultura. “A minha casa também sempre foi um abrigo para pessoas trans desamparadas, chegou uma época que tinham muitas, virou uma referência. A partir daí, a gente foi abrindo este leque para as questões sociais. Timidamente eu fui trabalhando a cultura de mãos dadas com as questões sociais, criando projetos que ajudassem pessoas”.
A coordenadora da Diversidade destacou que criou projetos que ajudavam pessoas. “Hoje trabalhamos com alguns projetos que ajudam algumas famílias com cestas básicas, a gente faz roda de conversas com mulheres, através da nossa instituição, aqui, a gente chama de “Chá delas”. Fazemos um café da manhã que a gente reúne mulheres para discutir os temas da vida, as dificuldades, e questões que precisamos trabalhar e as formas de avançar e superar estas questões do dia a dia das mulheres”.
Segundo Barbarha, o fato de trabalhar com as minorias e abrir espaço para todas, as demandas chegam e ela não rejeita nenhuma. “Eu trabalho muito com a política de gênero, da diversidade. Também dentro dos projetos que eu faço aqui, timidamente, com muita dificuldade, que às vezes eu tiro do meu bolso para manter projetos como este, o “Emprega Trans”.
O “Emprega Trans”, projeto já desenvolvido por Barbarah, pela “Acadêmicos da Grande Jacaraípe” consiste em mapear, cadastrar e procurar as pessoas trans. ‘Em parceria com empresas que vão se associando ao nosso projeto, eles disponibilizam a vaga de emprego e eu encaminho estas pessoas do nosso banco de dados. Muitas com escolaridade baixa, que, se for concorrer com uma vaga no Sine, ou for diretamente a uma empresa, ela não vai conseguir esta vaga, mas, através do nosso projeto, a gente leva para as empresas a ideia de que é importante dar a oportunidade, é ai que a gente tira a burocracia. É a oportunidade da trans de ter o seu primeiro emprego, de ter a sua primeira carteira assinada. Estas lutas diárias que a gente faz, é que nos deu a oportunidade de estar dentro da Secretaria das Mulheres”, frisou.
Para a coordenadora da Diversidade o momento representa um avanço. “É um avanço na representatividade, porque o que eu quero para as mulheres trans é que elas podem, porque o grande desafio que eu acredito é na questão social. O Estado pode até dar as oportunidades, as empresas podem abrir o leque para pessoas trans, mas senão houver um olhar diferenciado, se não diminuir as burocracias, e se, não for até às mulheres trans, elas não vão ao encontro das políticas públicas. “As mulheres trans estão desacreditadas, eu costumo falar que mulheres trans criam um casulo em volta delas e elas ficam seguras no casulo delas, por isso que, muitas vezes, estar na prostituição é mais confortável. Elas estão aonde elas têm o controle, aonde elas se sentem seguras, onde elas dominam. Elas estão protegidas do assédio social, da maquina toda que envolve. O que nós temos de fazer enquanto poder público, é que está tudo bem, pode sair do seu casulo, existe uma vida aqui fora, há oportunidades, você é bem vinda no espaço público, você é bem vinda nas empresa, você pode mais, você pode crescer, você pode estudar, você tem o seu espaço reconhecido, você tem oportunidades. Eu penso que é o trabalho que precisa ser feito, quando a gente fala de mulheres transexuais e travestis”.
Muito feliz com a oportunidade, Barbarah espera poder fazer e contribuir muito, dentro da pauta de gênero e diversidade.

Oportunidades as encarceradas

Em tempo, a coordenadora salientou que esteve na Penitenciária Feminina de Cariacica, localizada em Bubu, e recebeu muitas demandas das detentas, e uma das primeiras ações adotadas foi ouví-las. Nos próximos dias deve visitar as presas do Presídio de Segurança Média II, de Viana. “Vamos ouví-las para saber quais são as suas necessidades. A intenção é que elas saiam da prisão para outra realidade, e não voltem para o que tinham antes. Queremos fazer política pública para que dê impacto positivo na vida dessas mulheres. A preocupação é que elas saiam de lá com esperança, com metas, propósito. A gente não quer que elas saiam dali e voltem para as esquinas, e voltem para criminalidade. O que a gente tem de fazer é mostrar para elas que existem outros caminhos e outras oportunidades e mais do que justo, aconselhar elas enquanto elas estão na tutela do governo. Lá a gente consegue capacitá-las, instruir, a gente consegue ofertar a elas uma ponte, para que elas saiam de lá com outras expectativas”, afirmou.
Brasil defende também a educação para mudar a vida das pessoas LGBTs. “A gente também quer criar incentivo para que elas voltem a estudar, porque muitas delas têm apenas o ensino fundamental. Queremos que elas façam o ensino médio e cheguem até a faculdade, porque, às vezes, existe oportunidade de emprego, mas elas não têm qualificação adequada”, frisou


Gratidão

Barbarah compreende que a Secretaria da Mulher no ES é nova, está em fase de construção e adequação. “Eu estou grata, vou participar do começo da construção da Secretaria, é muito importante ter uma mulher trans lá, principalmente porque vai saber direcionar as pautas corretas. E, estas pautas participarem desde o começo da construção da Secretaria e garantir as políticas públicas para as mulheres trans, travestis e a comunidade LGBT, para as minorias. Eu acho muito importante, o que depender de mim, da oportunidade que foi dada, nós vamos fazer este trabalho sim, aproveitando esta porta aberta, para escancarar ela e nunca mais a porta ser fechada pera pessoas LGBTs, no estado do ES”, concluiu.

Inovação, garante Jacqueline Moraes


A secretária Estadual da Mulher no ES, Jacqueline Moraes destacou que é inédita, tanto a pasta quanto o cargo que traz uma pessoa que conhece, de fato, as demandas da população LGBTQIA+ para coordenar as ações. “A Secretaria das Mulheres chega inovando e pela primeira vez no Estado do Espírito Santo, uma mulher trans e travesti passa a atuar na política específica para mulheres, se incumbindo de construir uma política de diversidade sexual e de gênero. Isso é de grande importância, já que ela vai promover inclusão e acesso da comunidade ,atuando diretamente na Subsecretaria e desenvolvendo políticas específicas para mulheres trans e travestis. Entendemos que, além de ser um marco importante em termos de inclusão e diversidade, é também, um passo largo para promover a representatividade de pessoas trans na administração pública.” Jacqueline Moraes

Para Renan Cadais, Gerente de Políticas de Diversidade e Gênero da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, o Espírito Santo segue avançando.
“Agora contamos com mais um órgão gestor para construir políticas LGBTI+. Na última semana, Barbarah Brasil foi nomeada como Coordenadora de Diversidade da Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres. Parabéns @Barbarah Brasil Coord. SEMES!! Seja muito bem vinda às trincheiras da gestão das políticas públicas para a população LGBTI+ capixabas”, parabenizou.

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