PAUSAS PARA A LITERATURA

“Sou um homem quieto, o que eu gosto é ficar num banco sentado, entre moitas, calado, anoitecendo devagar, meio triste, lembrando umas coisas, umas coisas que nem valiam a pena lembrar”. Rubem Braga

 

Viva Rubem

Todo escritor deseja ser lido. Deseja que sua literatura perpasse além do papel e da grafia e passe a dançar nos olhos e nas almas dos que o leem. Sob esse aspecto, tracemos uma analogia com a crônica de Rubem Braga, de 1967, intitulada “ Meu ideal Seria Escrever…” Como toda a obra magistral de Rubem (deixemos o sobrenome de lado), esta crônica consegue fotografar a vontade máxima do escritor, que é ser lido, não falo de admiração em seu sentido de fama, mas o querer que suas palavras escorreguem no outro.

Tratando-se de pós- modernidade, vemos que o leitor exerce mais domínio sobre a obra. Esta, por sua vez, encontra-se mais aberta para que o leitor interfira e consiga penetrar em suas vertentes mais densas. Como atemporal, Rubem, em diferentes escritos, consegue com que pensemos a humanidade nas suas maneiras mais óbvias e mais complexas. Ele consegue extrair dos elementos prosaicos aquilo que nos possibilita repensar, inaugurar, debater, antever, construir, enfim, em sua escrita, vemos o sujeito como indivíduo e objeto, principalmente, nestes tempos caóticos.

No texto já referido, vemos um “querer faminto” em fazer de seu texto uma solução para todos os males, como um elixir para as problemáticas da vida humana, fomentando no outro uma mudança de hábito, ou melhor, de vida. Sua ideia registrada, no texto, parte do desejo de colorir a vida de “uma moça cinzenta. ” E, a partir disso, deseja que os pares sejam mais felizes, que as pessoas mudem seus comportamentos por conta da sua história e que ela ganhe mundos; viaje espaços e os corações das gentes. “E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras…”, escreveu Rubem.

Novamente, nosso cronista amplia o papel do fazer literário, dimensionando as suas interpretações e impactos provocados nas vidas daqueles que o lessem. Ele sabia que ler bons textos literários faz de um mero sujeito um indivíduo singular, mobilizador e pensante. E pensar é um verbo de ação tão necessário e relevante quanto amar. Amar e pensar exalam nosso senso de humanidade, nosso senso de justiça, de sensibilidade e autonomia.

Rubem, nosso querido escritor, mostrou neste texto, como em tantos outros, o papel indispensável da literatura na vida dos homens e seus efeitos benéficos na nossa vida prática. A literatura mostra que a vida dos horários, dos ônibus lotados, dos momentos de pressa, dos encontros e desencontros não bastam, pode-se mais. Deve-se mais.

Por meio desta crônica, podemos lançar novos olhares para o objeto literário, para as literariedades, para o que está além das palavras, para o não dito e esperado. Rubem torna-se lupa para as visões atordoadas, arranhadas e envelhecidas. Ele liberta o discurso literário da sua formalidade rançosa e imóvel, reinventa os alicerces dos personagens, libertando-os do comum, ao mesmo tempo em que dá novas propriedades ao escritor acerca da sua obra e seus deslizamentos no leitor.

Ao leitor, ele dá a chance de acordar de um sono vazio, pobre e de escapismos. Graças a Rubem, temos a possibilidade de recriar nossos ambientes literários, empoderar, mais do que nunca, a vida na escrita e revigorar o papel da literatura  ( primordial) na sobrevivência da sociedade.

Rubem Braga ( 12/01/1913 – 19/12/1990)

Escritor cachoeirense, sendo considerado como o maior cronista do Brasil. Foi correspondente de jornais brasileiros no exterior e exerceu o jornalismo em várias cidades do Brasil.


 

Curiosidades…

✓ Foi embaixador do país em Marrocos;

✓ Era um sujeito de vida solitária;

✓ A crônica literária brasileira é dividida entre antes e depois de Rubem Braga, segundo estudiosos de literatura;

✓ Seu texto trabalha com o cotidiano, matizado por sua experiência e visão de mundo, revelando simplicidade, precisão e tom coloquial.

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