TÃO PERTO E LONGE, filha chega da Itália em Piúma e sequer abraça a mãe

Filha de professora de Piúma chega da Itália, fica de quarentena em casa e sem abraços, apesar da saudade

A técnica em segurança do trabalho, Jéssica Silva Novaes, 28 anos, natural de Piúma, filha da diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Ângela Paula Coelho Pedroza, Ednalva Luiz, passou por momentos muito difíceis para sair da Itália e voltar para a casa da mãe, no bairro Niterói, em Piúma.

Chegou a Cidade das Conchas no último dia 20 e desde que desceu no aeroporto em São Paulo, no dia 19, está de quarentena. Na casa da mãe, mesmo com a saudade provocada pela distância, nada de abraços, até o cumprimento dos 14 dias de quarentena. Jéssica está isolada em um quarto da residência, recebendo alimentação e todos os cuidados. “Não estamos perto, às vezes choro, pensando em como ela sofreu. E chegar cheia de saudades e não poder caber no abraço, foi difícil e está sendo muito diferente”, conta a mãe.

Ednalva relatou que a filha queria ficar em casa com ela. “Ao saber que a minha filha não queria ficar em São Paulo com a minha irmã, fui procurar o secretário de Saúde de Piúma para falar o que estava acontecendo e quais medidas deveria tomar, ele prontamente me atendeu e liga todos os dias para saber como vai o estado de saúde dela. Agradeço a equipe que ele montou para compor essa ajuda, as pessoas que também estão de quarentena,  tem ligado constantemente”.

A recepção foi a distância mas, como muitos mimos de mãe

O secretário de Saúde pediu que a deixasse em isolamento domiciliar por 14 dias, porém, se não apresentar nenhum dos sintomas, poderia deixá-la sair do quarto e andar normalmente pela casa. “Mandou usar máscara e luva para cuidar dela, e qualquer situação nova ligar para ele. Estou seguindo as orientações que me foram passadas e não vejo a hora de soltar minha rainha. Já comeu um peixe frito, peroá que a tia Jaíra mandou”, disse Ednalva.

Experiência dolorida

Jéssica falou com a Reportagem com exclusividade. “No dia 17/02 embarquei no avião com destino à Itália na cidade de Napoli (Naples) em uma Província Italiana para dar continuidade ao meu processo de cidadania Europeia, foi lá onde os planos começaram a mudar, passado três semanas, o surto do coronavírus começou a tomar ainda mais espaço, meus colegas que também estavam nas casas começaram a voltar para o país onde estavam como imigrantes. Inglaterra por ser um país de primeiro mundo, seria difícil a entrada, até porque as fronteiras já estavam todas se fechando, fui para a Bélgica na casa de uma amiga que convivi nessas três semanas na Itália, fiquei na Bélgica uma semana e foi o período que precisei para decidir retornar ao Brasil”, contou Jéssica.

De acordo com Jéssica, ela estava em constante oração e visualizando um cenário real , uma “Guerra Incolor “, “o medo era maior que se tivéssemos que lidar com as armas de fogo, a incerteza, o medo, o pânico, a saudade … 24 horas tentando achar uma passagem, em todas as agências e com meus amigos ajudando, mesmo assim não encontrava, os aeroportos fechando e vôos sendo cancelados, finalmente com a ajuda de Deus uma passagem apareceu para comprar com conexão em Madri ( Espanha ), comprei a passagem e fui para o aeroporto sem saber que conseguiria embarcar, quanta aflição nos olhos das pessoas que já estavam há cinco dias esperando por uma oportunidade de voltar para casa… Fui seguindo na fé, na certeza que Deus abriria as fronteiras, eu vivi milagres, não tive nenhum vôo cancelado, todos no horário, vim em uma área de isolamento no avião… Quando o avião pousou em São Paulo, não contive as lágrimas, nem a emoção… Com tudo isso que está acontecendo no mundo pude ser ainda mais perceptível ao cuidado e amor de Deus e que absolutamente nada nos seres humanos podemos controlar, minhas orações é para que o mundo desperte para viver o amor e a plenitude da vida. Eu estou chorando hoje com os que choram …”, se emocionou Jéssica.

Em meio as três semanas de medo, angústia e desespero, conseguiu parte dos documentos que fora buscar na Itália, e hoje já está pensando em concluir sua jornada em Londres ao lado dos amigos e do noivo, depois que tudo isso passar.

Piúma – pessoas estão assustadas com a chegada de Jéssica da Europa

Jéssica foi para Londres em 2014, tinha cinco anos que não vinha ao Brasil. A mãe que ia visitá-la uma vez ao ano, quando dava. Mas a chegada dela a Piúma deixou muitas pessoas assustadas e os comentários são os mais diversos. “Devia isolar essa moça em uma casa na roça, bem longe da cidade e distante de pessoas. A presença no bairro dá medo”, comentou um vizinho que preferiu não se identificar.

Mas, Jéssica não tem o sintomas do coronavírus, está em isolamento domiciliar e sequer teve contato direto com os parentes. Ednalva contou que um vizinho queria abraçá-la e ela disse que não podia, ele chorou.    “Têm pessoas assustadas com a chegada dela, fiquem tranquilos, ela passa bem, e assim que puder irá receber visitas. O isolamento é necessário. As tias estão com saudades, o irmão, mas, ainda não podemos nos abraçar. Redobrei os cuidados com a alimentação, afinal sou uma mãezona, o irmão conversa com ela de longe. Muito triste, fazer o quê? O que a deixou triste mesmo foi saber que as pessoas então comentando que ela trouxe o vírus para Piúma. Ela não está com nenhum sintoma, nem o terá, em nome de Jesus”, comentou a mãe.

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