Pescador mais velho de Piúma na lida ganha tábua de frios em homenagem ao seu dia

Seu Danilo amanhã sai para pescar, só não vai se chover, com 84 anos, de madrugada ele encara o frio no mar

O pescador Danilo Miranda Cardoso, 84 anos é o que tem mais idade na atualidade ainda na lida com a pesca no balneário de Piúma. Seu Danilo foi escolhido pelo Jornal Espírito Santo Notícias representando todos os pescadores do município pela passagem do dia 29, data que marca o dia do pescador para receber do Rancho dos Queijos uma tábua de frios de presente em homenagem. E, na tarde de desta terça-feira 30, o empresário Moacir Lima e a esposa Herica Lira Wandekoken Lima proprietários do Rancho dos Queijos foram até a casa do pescador fazer a entrega do brinde.

“Para nós, Seu Danilo é motivo de muita gratidão poder estar aqui trazendo uma pequena homenagem do Racho dos Queijos. Queremos parabenizar todos os pescadores, o jornal elegeu o senhor como sendo o mais velho na profissão e por isso estamos aqui. Que Deus abençoe o senhor e toda a família. Parabéns por dedicar a vida ao trabalho, correndo riscos, enfrentando tempestades em busca do sustento. Em nome do senhor queremos estender o nosso abraço a todos os pescadores e marisqueiras da nossa cidade”,  ressaltou Moacir Lima.

O jornal Espírito Santo Notícias sempre lembra o dia dos Pescadores e todos os anos faz homenagens a estes profissionais. Já escrevemos um capítulo da história de Seu Danilo, bem como de sua sogra Doa Marolina. Temos muito orgulho em registrar histórias como a dele e de tantos outros. Neste ano fizemos esta parceria com o Rancho dos Queijos para prestigiar seu Danilo por ele ser o mais experiente na profissão ainda trabalhando aos 84 anos. Parabéns”, disse o editor chefe Tiago Rocha.

Uma vida no mar

Seu Danilo nasceu em Piúma e reside no bairro de Limão.  Passou toda a vida no mar enfrentando medos, angústias, saudades, perigos, fome, frio e também alegrias. É o pescador de mais idade ainda na ativa na cidade. Cheio de vitalidade, sai todos os dias, ainda de madrugada com seu caiaque para praticar o ofício que aprendeu com o pai ainda menino.

Com tantos anos no mar, seu Danilo viveu duras cenas, sofreu apuros, ficava meses no mar. Antigamente, recebia notícia da família ao se encontrar com outro pescador, quando o barco atracava no porto no Rio de Janeiro. A pesca não era moderna, tudo era bem mais complicado, “sofri muito”, diz ele.

Seu Danilo relatou que já trabalhou em grandes embarcações, com 35 botes pequenos espalhados em alto mar e já perdeu amigos em tragédias. “O mestre era carrancudo, deixava os botinhos em alto mar e voltava tarde da noite para nos resgatar. Passei muito apertado dentro do botinho com problemas de mau tempo. O mestre era muito bravo e arrogante; não ‘panhava’ a gente, só ‘panhava’ à noite, peguei grandes tempestades e muitas dificuldades. Desde que nasci eu conheço o mar”.

A luta também era na roça

Antes de pescar, a labuta era na roça, ainda com 10 anos, seu Danilo acompanhava o pai, dentro de uma cangalha, que usavam para ir buscar cana. “Levantava às 2h00 da madrugada, mamãe colocava um pano na cabeça, eu ia dentro da cangalha, buscar cana na roça. O trabalho na minha vida começou cedo”, relembrou o pescador.

Até hoje, toda a família de seu Danilo trabalha no mar ou na praia. O sustento que deu segurança aos cinco filhos e a mulher foi tirado das pedras, das conchas, das redes, tarrafas, anzóis, espinhais e puçás. Em meio a tantas lembranças de sofrimento, seu Danilo afirmou que é verdade, já ter pescado um cação de 309 quilos na Praia de Piúma, usando um espinhel. “Eu pesco ainda, o dia que não pesco fico doente. Pesco de anzol, de rede, comprei um caiaque e estou trabalhando. Tem um amigo que está aprontando um barco grande para gente trabalhar em alto mar”.

Tristezas da lida no mar

Quem saboreia uma Moqueca Capixaba em um restaurante ou mesmo um peroá não tem ideia do que passa o pescador diariamente. Muitas vezes chegam a ficar semanas sem banho. “Tinha dia que a gente pegava água escondido na cozinha para tomar um banho no pano, molhava a camisa e passava no corpo”. A alegria maior era quando avistava a terra, triste, era quando saia, o barco ia sumindo no mar e tudo ficava pra trás. A pesca melhorou muito hoje, a família liga três quatro vezes por dia. Eu saí daqui de barco para ir para o Abrólio, eu fui, deixei minha filha mais velha doente, aí passei um mês e dez dias lá, já estava no rio descarregando, um companheiro daqui que me falou que ela já tinha melhorado. Era difícil a comunicação”.

A fartura que tem hoje quando a embarcação sai não se compara há de 50 anos. Levava um pouco de sal, um pouquinho de açúcar no barco para fazer um café. “Na época era muito difícil. Hoje os pescadores levam 15 a 20 quilos de açúcar para o mar”.

A esposa, Nelzira dos Santos Cardoso, 74 anos, relembrou que passou muitos apuros. Quando via o tempo fechar, ficava com medo. Hoje ela ainda cata mariscos e os netos vendem. A filha Clenilza Cardoso Oliveira, 53 anos, cata mariscos desde aos 18 anos e limpa peixe para os frigoríficos. “Não tinha muito trabalho, parei de estudar para trabalhar. As minhas filhas vendiam depois que eu tirava. Hoje estou formando uma filha com dinheiro de sururu e os peixes que a gente limpa. Eu não quero que meus filhos passem o que passei. Estou toda cortada de sururu e levei muito tombo nas pedras dentro do mar”.

Atualmente a família cultiva sururu e quando não tem maré propícia para retirar das pedras, colhem na pequena produção próxima a Ilha do Gambá. Mas os tempos mudaram.  Agora, vendem aos restaurantes da cidade o marisco já embalado e pronto para o consumo.

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