O Peixinho, obra de Fabiani Taylor é censurado pela Secretaria de Educação de Vitória, que o recolhe das escolas municipais

A alegação para recolher O Peixinho, obra da escritora Fabiani Taylor, segundo os trabalhadores da educação de Vitória, é que no início do livro a autora usa o termo todxs em vez de todos. 

Pasmem, nem a literatura está a salvo. Acreditem, no apagar das luzes das férias escolares, a secretaria de Educação de Vitória recolheu três livros das escolas Municipais da Capital. O Peixinho, da escritora Fabiani Taylor – colunista deste veículo, mestre, professora efetiva da Rede e Estadual por causa da dedicatória.

O Peixinho, da escritora piumense, Fabiani Taylor; Mamãe Nunca me Contou, da escritora inglesa Babette Cole; e O Barba Azul , cuja versão contida nas escolas da Capital não foi especificada. O comunicado a respeito da medida foi feito pela pasta comandada pela secretária, Juliana Roshner, através de mensagem de WhatsApp quarta-feira (27) e foi efetivado quinta-feira (28), conforme informam profissionais da rede municipal de ensino que preferem não se identificar por medo de represálias.

De acordo com a escritora Fabiani Taylor, quinta, 28, ela recebeu uma mensagem que o livro O Peixinho, publicado pela Editora Kazuá (2019), junto com outros cinco livros que formam a Coleção Poesia é o Bicho, havia sido recolhido das escolas municipais, de Educação Infantil, de Vitória, supostamente, por ter, na dedicatória, algumas palavras que ao invés de o/a têm o X. “Conforme fui informada, aparentemente não houve nenhuma Portaria ou Circular que justificasse, com devidos argumentos, o recolhimento, por que não dizer CENSURA, de tal obra, mas feito a partir de uma reunião e comunicação por WhatsApp, de modo informal e num período em que as escolas estão sem alunos e com um número reduzido de funcionários”, ressaltou a escritora.

Explicou Taylor que O Peixinho traz a história de um peixinho que tem dificuldade de fazer novas amizades, até ele passar por uma situação difícil e perceber que deve ser amigo de todo mundo. “Não foi a história o incômodo sentido pela Prefeitura de Vitória, logo, pela Secretaria de Educação. O que levou tais pessoas a um ato tão estarrecedor em pleno Século XXI, foi supostamente a dedicatória, de cunho pessoal, e que diz assim “A todxs xs funcionárixs da EEEFM Profª Filomena Quitiba, minha escola do coração. A todxs xs alunxs que já passaram por minha vida, gratidão por terem me ensinado a ser professora.”

A partir dessa dedicatória, o livro foi recolhido, conforme informaram a Fabiani que ainda não foi comunicada oficialmente pela Secretaria de Educação de Vitória. Possivelmente inadequado para as crianças. “É importante ressaltar que sou uma mulher de 45 anos, graduada, pós-graduada e com mestrado em Letras, trabalho há 25 anos na Educação e sou efetiva, com dois vínculos, como informado na dedicatória, na Escola Filomena Quitiba, em Piúma. Assim, é impossível ignorar a diversidade que já perpassou em minha vida em tantos anos dedicados à sala de aula. Penso que temas como racismo, feminicídio, gênero, meio ambiente, trânsito, drogas e tantos outros devem estar presentes na escola, pois o mundo não é um conto de fadas”.

Deixou bem claro a escritora que, a indignação que sente no momento, a deixa triste em pensar que existem pessoas que, supostamente, ignoram as realidades existentes na escola. “O que fazem quando a criança/adolescente tem dois pais ou duas mães? Quando a criança/adolescente mudou o nome? e também, por último, mas importantíssimo destacar, o respeito à literatura, ao trabalho dos escritores, pois, a história do livro O Peixinho, tão importante para todas as idades, e seria muito bem trabalhada pelos professores, foi ignorada porque o desrespeito às diversidades na escola falou mais alto. Por enquanto, sigo acreditando que o inadequado é uma criança passar fome, sofrer violência doméstica, vender paçoca no sinal (ao invés de estar na escola estudando), dormindo nas ruas ou abandonadas em casas de passagens sem saber o que é o amor de uma família, sem uma escola adequada para estudar, enfim, sem poder desfrutar de seus direitos”, indignou-se Fabiani Taylor.

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