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Eu imploro, por favor, pare, desligue um pouco o celular

“O texto que segue é uma crônica escrita nesta madrugada por mim (Luciana Maximo). Acordei com o meu coração dilacerado depois de algumas revelações. O ofício de jornalista me obriga conviver com dores todo dia. Eu preciso dividir e compartilhar e na escrita que eu consigo melhorar”.

São 3h32 da madrugada, mais uma vez eu perdi o sono, eu sinto uma angústia muito grande dentro do meu peito e choro, choro compulsivamente, arregaça meu coração uma dor e eu não sei explicar direito, que sentimento é esse, que me atormenta e me obriga deixar a cama.

Eu escuto latidos de cachorro no quintal, no quintal do vizinho, seguidos latidos é o prenúncio de que algo está acontecendo, e está acontecendo, mas eu não sei exatamente o quê.

Há um cão agoniado, parece sendo violentado, ou amarrado, envenenado, ele geme muito, muito, geme tanto que agonia, chega me arrepia. Ele está muito angustiado, talvez esteja vendo uma cena escondida acontecendo. Que horror!

Fora os latidos do cachorro, o silêncio. O silêncio que grita dentro de mim me causa muita dor, náuseas e vontade de fazer cocô. Há um redemoinho dentro de mim.

Eu estou preocupada com os anjos, eles estão sendo amordaçados e calados e talvez, neste momento, estão sendo abusados e estuprados, por aqueles que foram adjetivados de pais, sei lá, padrastos, tios, irmãos, vovôs.

Em algum lugar, em algum canto, numa laje, em alguma cama, num colchão no chão, em algum quarto, há choros, choros engolidos e gritos em silêncio de crianças que estão sendo estupradas. Estão tendo seus cruéis destinos traçados.

Eu ouço o grito delas. São muitos gritos, são muitos estupros, são muitos. Muito mais de 100, eu posso lhes dar garantia, muito mais de 100. Hoje, neste sábado, muitos ainda vão ocorrer e por aqueles que deveriam proteger.

Eu te peço, mãe por favor, tia, vó, irmã, desligue um pouco o celular. Pare!

Pare um pouco para observar, o olhar do seu filho, sua menina, seu bebê. Pare! Olhe nos olhos, nos braços, nos pulsos, nas mãos. Põe a mão no seu coração, ouça o grito mudo delas.

E neste momento a minha menina me chama na cama, ela sente a minha falta, e eu tô na cozinha perturbada com o latido do cão, sozinha.

Mais uma vez eu peço por favor, desligue o celular. Pare pra escutar e observar. Eu sei do que eu tô falando. Eu sei do que eu tô falando. Eu tenho provas, mas eu não posso mostrar. O seu marido, seu companheiro, seu pai, avô, tio, está matando a sua filha, o seu filho pra sempre. Eu imploro, por favor: Pare para observar, desligue um pouco o celular.   

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