São Pedro de Itabapoana a um passo do Tombamento pelo Iphan

São Pedro do Itabapoana foi o segundo município mais populoso do estado até o final da década de 20. Um dos municípios mais importantes do E S até Revolução Varguista de 1930 quando teve sua sede e comarca “roubada”

O Sítio Histórico de São Pedro do Itabapoana tem histórias para contar que todo capixaba deveria conhecer de perto, aliás, deveria constar nos livros de História do Brasil e do ES. Por conta da sua rica memória vive seus dias contando as horas para receber o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan e o seu tombamento, o que dará ao distrito de Mimoso do Sul visibilidade, reconhecimento nacional.

A Reportagem esteve no Sítio Histórico, neste último final de semana participando do IV Casa Aberta e aproveitou a oportunidade para conversar com o presidente da Academia de Artes, História e Letras de São Pedro de Itabapoana, Maria Antonieta Tatagiba, Dr. Pedro Antônio de Souza, responsável pelo início do processo de Tombamento como Patrimônio Histórico do Espírito Santo, em 1978.

Oito anos depois, isto é, 1986 São Pedro tornou-se Sítio Histórico, reconhecido pelo Conselho Estadual de Cultura que realizou o tombamento de 41 imóveis residenciais, além do prédio Câmara e Cadeia, da igreja e o calçamento central em pedras pé-de-moleque, a maioria deles datados do século XIX, como Patrimônio Histórico e Artístico Estadual.

Agora, o desafio é maior, tornar o Sitio referência nacional, para isto o Iphan já analisa os recortes das memórias são pedrense para seguir com o processo de tombamento. Dr. Pedro Antônio ressaltou que esteve em São Pedro uma arquiteta realizando um estudo para uma tese de mestrado, cujo tema: Território de Identidade. Esta arquiteta apresentou o estudo realizado em dezembro, no Iphan do Rio de Janeiro e recebeu nota 10 pela banca avaliadora, o que significa mais um passo rumo ao Iphan Nacional.

O reconhecimento do Sitio Histórico pelo Iphan dará ao distrito de Mimoso do Sul status semelhante a Tiradentes, em Minas Gerais. “Já temos uma experiência de 31 anos de tombamento enquanto representante para a memória do Espírito Santo. Recentemente, uma arquiteta esteve aqui para realizar uma pesquisa de dois anos, fazendo o que ela chamou de Território de Identidade de São Pedro do Itabapoana, que vai muito além do nosso Sítio Histórico. Essa área é o que tem de muito preservado, de como se plantava, se colhia, como se tratava, as relações de trabalho, a paisagem. É um conjunto muito grande de questões que são muito fieis ao formato do modelo das regiões produtoras de café no final do século XIX e início do século XX”.

Salientou Dr. Pedro Antônio que outras regiões do Brasil, que foram produtoras de café passaram por mudanças, criaram outro perfil de desenvolvimento, mudaram a forma de plantar, tratar e colher, São Pedro não. “Na região onde é chamado de Território de Identidade de São Pedro de Itabapoana está muito bem preservada, o que ganha uma condição de memória para o país.

Pedro Antônio salientou que que as preservações são sempre ações secundárias e nenhum lugar surge para ser um sítio histórico, na medida que ele perde o curso do desenvolvimento, ou seja, ao passo que o desenvolvimento migra para outras regiões. “De certa forma é uma parada no desenvolvimento que mantém características que ano depois vão servir de memória para uma fase. Geralmente o tombamento dos nossos sítios passa por ações secundárias. Já existe o estudo, feito como base para uma dissertação em mestrado da arquiteta e foi aprovado com louvor, isso significa que todos os membros da banca deram 10 a ela. Teve uma repercussão muito grande. Ela fez recentemente a apresentação do trabalho para Comunidade de São Pedro do Itabapoana e foi uma reunião muito produtiva”, disse.

Importância

De acordo com Pedro Antônio o modelo de tombamento de 1987 foi muito diferente da atualidade.  Para se fazer um tombamento desta magnitude é preciso ter uma decisão concisa da comunidade. É preciso definir no pacto de gestão as responsabilidades da esfera federal, estadual e municipal e o comprometimento da comunidade. É um formato bem mais maduro. “Se o Iphan Nacional entender que o que nós temos, como somos, como estamos e como fiamos até hoje, se isso significar memória para o Brasil, vai nos colocar em outro circuito, vem divulgação, informação, ganhamos um status de um bem de importância nacional. É um avanço muito grande. É um desafio, temos de estar estruturados, temos que crescer. Se virarmos um polo turístico, temos de nos qualificar para estra neste fazer, neste mercado”.

O momento do Sítio Histórico é muito propício ao tombamento pelo Iphan. A Prefeitura de Mimoso do Sul assinou um termo de cooperação técnica com a Superintendência Estadual do Iphan do ES, com a Superintendência de Cultura da Universidade Federal – Ufes e também com a Secretaria de Estado da Cultura.

 

Construção da Narrativa

Para Pedro São Pedro necessita da Construção da sua narrativa histórica, alguns fragmentos importantes merecem ser destacados em vias públicas. É uma história muito rica, com questões muito originais e muito próprias do lugar. “O nosso visitante não encontra essas informações, a pujança que o município de São Pedro teve no ponto de vista econômico, cultural e político, pouco se vê. O que se ve é o casario que foi preservado, mas a casa só não fala. Tivemos morando aqui vice-presidente da província, senador da república, deputados estaduais, pessoas de muita importância, presidente do Tribunal de Justiça, escritores, profissionais liberais. São Pedro teve fábrica de ferradura, fábrica de seda, um comércio grande”.

Apaixonado pelos poemas de Maria Antonieta Tatagiba, Dr. Pedro lembrou que ela foi a primeira mulher que teve a obra poética publicada no Espírito Santo, em 1927. São Pedro teve um morador que foi nomeado pela princesa Isabel como presidente da Província de Alagoas, por seis meses, no final do Império. Teve um médico, filho de um escravo, que conquistou a alforria em São Pedro, este nasceu depois da lei do ventre livre e no mesmo ano da abolição se graduou em medicina no RJ, o Dr. José Coelho dos Santos. “São muitas histórias.  A questão do roubo da comarca, a forma que São Pedro deixou de ser município, a revolução das mulheres, a história do sino que rachou no dia do roubo da comarca, são coisas que precisam ser preservadas. “É história da cidade, fazer a construção da narrativa histórica e disponibilizar essa informação na própria via pública”.

Fotos/ http://mapio.net / Ronaldo Puppim Cursio e Luciana Maximo

 

Compartilhe nas redes sociais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *