Sargento Ferreira se encontraria com os 8 irmãos neste feriado

Foto: reprodução TV Gazeta Sul

“Não deixe para amanhã o que deve ser feito hoje, amanhã pode ser tarde demais”. Esta é uma máxima que todos sabem, mas nem todos seguem. Por ironia do destino se encaixa perfeitamente na morte inesperada do Sargento Ferreira, na manhã desde domingo, na Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim.

Ferreira como era intimamente chamado pelos oito irmãos, foi vítima de um bêbado ao volante, na madrugada da última sexta-feira, quando estava trabalhando, próximo ao Verdinhos Bar Universitário, na localidade de Morro Grande. Edalmo Fereira Peisino teria perdido o controle do veículo e batido no carro do sargento que estava estacionado e arrastado outros vários.

O condutor não fugiu do local, foi detido e levado à delegacia, lá ele pagou fiança de R$5 mil e foi posto em liberdade. O sargento socorrido a Santa Casa, aparentemente sem gravidade, mas sofreu uma hemorragia interna e faleceu na manhã deste domingo.

Nesta semana o Sargento Ferreira se encontraria com os 8 irmãos no Rio de Janeiro, onde residem cinco dos 9. Mas a fatalidade infelizmente os reuniu no salão do 9º Batalhão da Polícia Militar – PM, onde foi velado o seu corpo. Os oito irmãos se viram 12 anos depois do último encontro no velório da mãe neste domingo. Choro, desespero, dor e lamento por não terem se encontrado antes como ele gostaria e teria sugerido.

A Reportagem foi ao velório e lá conversou com um dos irmãos que reside em Porto Seguro, há três anos, o padre Ivan Ferreira que já esteve 9 anos em missão no Mato Grosso. Bastante emocionado ele ressaltou que o sargento foi quem pediu o encontro com todos. “Há uns meses ele fez contato comigo e pediu que juntasse forças com ele para nos unirmos. Somos em nove em distancias grandes geográficas, cada um tem as sua própria vida, como tantas famílias criam este ritmo e ele falou: ‘Ivan vamos fazer isto, vamos dar um jeito, há tantos anos que a gente não se reúne, caso contrário, numa hora dessas a gente vai se reunir para o velório de um nós. Foi exatamente o que aconteceu, faltando menos de uma semana para nos encontrarmos, hoje estamos aqui no velório dele”, entristeceu-se.

Em Cachoeiro residem três, hoje duas, Márcia e Raquel e o sargento que se foi, no Rio mais cinco irmãs e o padre em Porto Seguro. “O último encontro nosso foi no velório da mamãe há quase 13 anos que nos encontramos realmente, estávamos juntos, desde então não encontramo-nos”, disse.

Frisou o irmão padre que na teoria todos sabem que não pode deixar para depois e acabam deixando. “Eu uso muito nas Paróquias por onde passei, descobri uma vez uma frase que diz assim: ‘ame o que você tem, antes que a vida lhe ensine a amar o que você perdeu’. O Ferreira é exemplo de alguém que amou muito o que tinha, amou os irmãos, amou os amigos, prova disto, tantas pessoas indo e vindo, pessoas chorando aqui. Como diz William Shakespeare “amigos são familiares que a vida nos dá oportunidade de escolher e Ferreira foi adotado e adotou muitos e muitos familiares além do sangue, pela história bonita que ele construiu”, salientou.

Ivan disse estar muito emocionado por tantas declarações que estava ouvindo sobre o irmão Ferreira. “Dizem que todos que morrem acabam virando santo, no caso do Ferreira, em vida ele criou essa história bonita. Pessoa especial que foi, mais virtudes dele vão despontando num momento como este. Que alegria. Quando eu cheguei alguém disse, “que orgulho para o Ferreira ter um irmão padre, eu disse: que orgulho eu ter Ferreira como irmão, um grande orgulho”, chorou.

O Padre Ivan administra a Paróquia Nossa Senhora da Saúde e algumas comunidades em Porto Seguro-BA.

A perita papiloscópica Raquel Rosa, irmã de Ferreira falou rapidamente, disse que na semana passada, na quarta-feira, ele almoçou com ela e confirmou o encontro nesta semana, mas infelizmente não deu tempo”.

Chorando muito, a irmã Márcia Ferreira comentou que o patrão já havia concedido as folgas na lanchonete onde trabalha a cinco anos para viajar nesta semana o Rio para rever os irmãos. “Ele queria tanto que nos encontrássemos, estava arcado ara este feriado de Semana Santa, agora vamos nos ver todos aqui, no velório dele. Meu Deus, como dói’, disse Márcia.

 

 

Paizão do Grupo dos Artistas

Ferreira foi um homem incrível. Enquanto os parentes se abraçavam e choravam, muitos amigos se juntaram no salão para confortar os familiares.

O promotor de eventos Bruno Severo acompanhou Ferreira do local do atropelamento ao recebimento dos pertences do sargento na Santa Casa após a morte.

Bruno faz parte do Grupo dos Artistas no WhatsApp, onde pelo menos mais 20 amigos promotores de eventos trocam mensagens diariamente sobre festas e Ferreira era o mais velho do grupo, com 58 anos, considerado o paizão.  Ontem a foto do Grupo foi trocada pelo laço preto do luto e todos estavam inconsoláveis com a morte do paizão.

Logo após o carro do sargento ser atingido e ele ter sido atropelado, os promotores de evento no grupo dos Artistas já estavam trocando mensagens pensando em promover uma festa para arrecadarem dinheiro e comprarem um novo carro para Ferreira. Já que o sargento não podia ficar sem o veículo para trabalhar. “O grupo é o da Pelada dos Artistas, os promotores e eventos de Cachoeiro de Itapemirim. O Ferreira virou nosso pai, ele aconselhava, apartava briga, dava conselhos, ele era o nosso tudo, o pai do grupo. Ele estava no grupo por participar dos eventos e ser nosso amigo”, contou Bruno.

Lembrou o produtor de eventos que nos churrascos que o grupo fazia o melhor pão de alho era o que Ferreira fazia. E o sargento não faltava uma pelada, mas não jogava. “Na hora que ele foi atropelado mandaram no grupo. As 2h03 eu vi a primeira mensagem e já sai doido. No primeiro momento ele parecia bem, passou o número do fone de Ramon, o filho, de cabeça. Eu fiquei lá tomando conta do carro dele, queriam saquear as mercadorias. Assim que o guincho chegou eu fui para o hospital e só saí da Santa Casa depois que ele se foi. Ferreira é nosso pai, eu gostava muito dele. Ele já me ajudou muito, já me deu dinheiro para comprar fraldas para meu filho, já pagou a troca de óleo do meu carro, coisa que ele não tinha de fazer. Nós iriamos fazer um evento em solidariedade a ele para comprar um carro novo e ele poder vender as bebidas dele. Ele é um cara demais, nunca vou esquecê-lo. Todas as festas eu vou procurar por ele”, ressaltou Bruno.

Fenomenal

Ferreira um cara fenomenal, foi homenageado pela Polícia Militar. O cortejo seguiu no carro do Corpo de Bombeiros pelas ruas da cidade até o Cemitério do Coronel Borges. Por onde passou foi aplaudido ela população.

A cidade de Cachoeiro de Itapemirim reconhece o sargento como um homem do bem e dedicado a tudo que fazia. Foi durante 30 anos policial militar, destes muito mais da metade trabalhou no trânsito, ajudava as pessoas nas faixas de pedestre, dava orientações e conselhos

O maior gesto dele foi doar as córneas para que outra pessoa possa enxergar a vida que vale apena ser bem vivida.  Fica a lição de um sargento da PM, aposentado e respeitado por tudo que fez. Que Deus o receba!

 

PM Homenageia sargento

A Polícia Militar do Espírito Santo divulgou uma nota lamentando a morte do sargento da reserva José Ferreira da Rosa, o Sargento Ferreira, atropelado e morto na madrugada do último sábado (15), na rodovia ES 482, em Morro Grande, Cachoeiro de Itapemirim.

“A Instituição lamenta profundamente a perda e se compadece junto aos familiares nesse momento de tamanha dor, rogando a Deus que conforte os corações em luto”, diz a nota.

 

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