O Porto silencia! Morre Dona Caçula, a mãe de Jorgiane Taylor, esposa do pescador Maneco

O corpo será velado no Salão da Igreja Imaculada Conceição, o sepultamento será às 8h00, desta quarta, no Cemitério da Aparecidinha

Era 14h20 quando Dona Caçula se despediu da filha Jorgiane Taylor, após um adeus regado de muitos beijos nas mãos, conversas ao pé do ouvido e eternos agradecimentos, no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Piúma, nesta terça, 03.
No cartório, a dona de casa que teve tantos afazeres e deixou tantas histórias e lições de vida recebeu o nome de Cleuza das Neves, 73 anos atrás, contudo, poucos sabiam deste registro que ela não gostava de revelar a ninguém, ficou Caçula mesmo, já que também foi a última filha dos pais. Teve três filhos e foi casada com o pescador Manoel Taylor, o Maneco – uma família muito amada e querida na Cidade das Conchas. O Porto hoje está em silêncio.
Foram mais de 50 anos residindo na Rua Alfredo Maia Dias, antiga Colatina, no Porto, em Piúma. Mas neste último 1 ano e sete meses, muitas idas e vindas a hospitais e depois de quatro acidentes vasculares cerebrais, Dona Caçula se foi.

O corpo será velado no Salão da Igreja Imaculada, no bairro Tamarindo aonde ela gostava muito de frequentar. O sepultamento está marcado para às 8h00 desta quarta-feira, 04, no Cemitério da Igrejinha, lá no bairro Aparecidinha.

Quem teve a oportunidade de prosear com dona Caçula sabe que ela sempre tinha muitos relatos para contar das histórias de Piúma, contava os “causos”, de como tudo era antigamente, nos tempos que Niterói se chamava “Dotro Lado”, as mulheres que carregavam lata d’ água na cabeça e da Pedra do Descanso. “A gente foi crescendo ouvindo muitas histórias dela também. Mas ela nunca gostou de holofotes, sempre muito simples, dedicada e amiga das pessoas. Mamãe sempre foi uma pessoa bem-querida, ela e meu pai. Fez um pouquinho de cada coisa, foi doméstica, cozinheira, fazia artesanato, catava conchas. Eu ainda criança vendia os colares que ela produzia na Praia de Iriri e Piúma. Depois ela começou a fazer salgados, fez muitos para os Quiosques da Loira e do Rudnei, bem lá atrás, quanto os quiosques eram de madeira, bem simples, com o dinheiro que ganhava ela juntava e foi construindo a nossa casa, pedaço por pedaço, cada verão fazia-se um cômodo, e assim foi”, contou Jorgiane.
Entre a dor e a emoção de tantas lembranças Jorgiane sorriu ao relatar que a mãe sempre pedia que ela estudasse para que não ficasse no fogão como ela, Dona Caçula não queria a vida que ela tinha para a filha. “Ela quis que eu estudasse e nunca mediu esforços, sempre fez muitos salgados para pagar meus cursos que eu fazia, ficou muito orgulhosa quando eu me formei professora, que era o sonho dela que se realizou em mim e eu também sou muito feliz na minha profissão. Só que a vida tem muitas adversidades e naqueles momentos apertados era eu quem fritava e entregava os salgados, eu aprendi a fazer também e fazia com ela”.

O Quiosque Pedra do Caranguejo

A mais recente história do salgado de Dona Caçula e Jorgiane está na realização do Quiosque Pedra do Caranguejo, na Praia do Pau Grande, inaugurado há três anos e sucesso em todos os quesitos. Começou da sociedade entre Jorgiane, Ludmila e Lídia hoje proprietárias do Bar do Bagre. “Foi um sonho meu, de Lídia, Ludmila, foi um sonho dela que sempre compartilhou financeiramente com o projeto, nos ajudou a conquistar tudo, depois quando acabou a sociedade eu ia devolver o quiosque, ela foi a pessoa responsável pela continuação do empreendimento, me deu força, no início não tinha as mercadorias e ela foi comprando para mim. Mamãe sempre foi muito segura financeiramente e ali a gente foi aprendendo. Ela ensinou muito para mim e pra minha cunhada como que fazia cada prato, como temperava e assim foram os nossos três anos de Pedra do Caranguejo, ela sempre nos ensinando, a gente teve ali uma formação. Hoje eu continuo com delivery graças a ela que não queria que eu cozinhasse e eu acabei adquirindo esta paixão que é de cozinha também além de ser professora”.

Amor para outras vidas

Uma união que durou até a tarde desta terça-feira, mãe e filha estiveram ligadas como se fosse pelo cordão umbilical. Moravam juntas, tudo compartilhado. Em um ano e meio dona Caçula foi umas três vezes para a UTI. “Eu peguei três licenças, e eu pegaria quantas fossem preciso para cuidar dela. Eu acho que tudo que eu fiz ainda foi pouco, por tudo que ela fez na minha vida, isso é fato. Ela veio de madrugada e faleceu 14h20, eu devolvi ela a Deus segurando ela na mão e dando beijinhos, muitos beijinhos, ela não morreu sozinha, faleceu comigo. Hoje o nosso cordão umbilical cortou-se, eu conversei muito no ouvidinho dela, falei que ela poderia ir, que Deus iria me dar força para saber caminhar sem ela, que realmente eu não sei, eu tenho 46 anos, mas sou dependente dela. Eu preciso hoje aprender a caminhar com as minhas pernas. Tudo sempre era eu e minha mãe. Quem me conhece sabe disso. Tudo era eu e minha mãe, festa de São Pedro eu ia colocar uma barraca, era eu e minha mãe, fosse fazer um salgado, era eu e minha mãe. Tudo! Ela sempre vai continuar do meu lado. Espiritualmente está aqui, pode ser que esteja dolorida, porque ela não queria partir, assim como ela não queria cortar o cordão comigo e nem eu com ela, mas é coisa de Deus. Precisamos entender qual é o propósito de Deus na vida da gente. Eu sei que eu tenho uma caminhada pela frente”, emocionou Jorgiane.
De Dona Caçula para a filha fica o olhar que ela tinha, o tempo todo corrigindo e ensinando. As conversas eram sempre no café da manhã na casa dela. Ela não gostava que Jô se metesse em confusão. “Deus me livre se alguém falasse mal de mim”.
Trabalhar com a verdade e com a honestidade, esses são os pilares de Dona Caçula para os três filhos e também para os netos. Manter e honrar a palavra dada, o carisma e uma coisa que ela sempre fez, ajudar o próximo sem propagar para ninguém. “O que uma mão faz a outra não precisa saber. Fica pra mim essa grande pessoa que é a minha mãe, um exemplo para minha casa e para meus filhos. Uma pessoa que sempre esteve do meu lado para estender as mãos nas horas difíceis e nas horas boas também. Aproveitamos, curtimos muito, fizemos algumas viagens, Aparecida do Norte era a paixão dela e foi a nossa última viagem. A gente tinha planos de retornar à Casa da Mãe”.

Agradecimento

Jorgiane agradeceu toda equipe do Hospital Nossa Senhora da Conceição. “Todos, a equipe da cozinha, da limpeza, os técnicos, enfermeiros, médicos, os radiologistas, os socorristas, motoristas, recepcionistas. Muito obrigada!

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