O cárcere não justifica à Fernanda Scherrer

O texto é um artigo de opinião, uma observação da jornalista que acompanha o desenrolar dos fatos.

A via crucis enfrentada por Fernanda Scherrer parece não ter fim, um sofrimento absurdo e arbitrário. Acaso estava embriagada dirigindo em alta velocidade e matou uma criança na faixa de pedestre? Onde deseja chegar o estado permitindo uma condenação e a sentença antes mesmo de um verecdito?

Primeiro um flagrante montado, com claras motivações políticas. Será loucura questionar ao judiciário se por acaso o Estado não está condenando a ré antes que ela faça a sua defesa preliminar? É uma prisão perpetua?

Ora, a prisão em flagrante ocorreu na manhã do dia 13 e nem era sexta-feira. Mas parece que o azar veio em cheio. A fiança estipulada pelo senhor juiz parecia surreal, 90 salários mínimos para cada acusado. Algo em torno de 270 mil, a meu ver, gera desconfiança.

Quem terá todo esse dinheiro no cofre de uma hora para a outra? Quem sabe Claudia Ochoa Félix, uma das mulheres mais poderosas do tráfico de drogas em Sinaloa, no México, Claudia é líder do grupo ‘Los Antraz’, responsável por dezenas de assassinatos na região. Fernanda traz alguma semelhança com a ‘Kim Kardashian mexicana’? Ou quem sabe Sandra Ávila Beltrán, a ‘Rainha do Pacífico’, assim conhecida por sua participação em cartéis de drogas mexicanos e colombianos.

Pois bem, a Rainha do Pacifico com nove toneladas de cocaína, e, certamente, não era esse pó de quinta que chega à Cidade das Conchas, sequer ficou presa no seu flagrante em 2007. E não ficou presa por que, por ter dinheiro que pagasse 10 vezes a fiança estipulada a Fernanda e poder pagar os advogados mais caros do Pacífico. Pasmem, senhores, Sandra foi considerada inocente das acusações de tráfico de drogas e associação criminosa.

Fernanda não estava com nove toneladas de cocaína e quem não sabe, deveria saber, foi o avô dela quem emancipou a cidade onde ela tem endereço fixo e viveu toda a sua vida trabalhando todos os dias. Não tem nenhuma condenação e não cometeu nenhum crime hediondo. Traz em sua origem uma bagagem cultural e histórica e o seu DNA está cravado neste chão. Quem nunca ouviu falar em dona Izalina e seu Zé Scherrer? Todos na cidade a conhecem, como também o tribunal que a condena.

Não compreendo, senhor magistrado, o perigo que pode causar Fernanda fora desse cárcere frio.  Parece um suplício tudo isto. Todos sofrem com o sofrimento dela, menos quem tem desafeto com ela.

O TJES baixou a fiança, mas 45 salários mínimos só seria possível pagar imediatamente se o dinheiro tivesse nas mãos de Judy Moran, matriarca da família Moran, uma das famílias criminosas mais perigosas de Melbourne, na Austrália.  

Antes que me perguntem, depois do flagrante montado para a prisão, o promotor ofereceu a denúncia contra Fernanda. O processo foi concluso ao juiz e o magistrado deverá receber ou não a denúncia do Ministério Público. Mas ainda a mantém presa, com qual finalidade, meritíssimo?

Na verdade, antes do juiz receber ou não a denúncia, ele vai abrir vista a defesa preliminar. A defesa vai se manifestar sobre o pedido e ele recebe ou não a denúncia.

Junto com o despacho inicial, o juiz vai analisar o pedido de liberdade provisória de Fernanda, depois de analisar ele poderá transformar a denúncia em uma ação penal.

Na verdade, Fernanda já era para estar em liberdade, nada justifica a manutenção dela no cárcere. Ela está sofrendo um massacre coativo sem precedente. O Estado está sendo extremamente rigoroso com ela. Não se faz justiça agindo desta forma.

Há quem diga que o que está havendo é um verdadeiro abuso do direito, como prejuízo o cerceamento da liberdade. Vai fazer um mês. É um sofrimento sem fim e desnecessário.

O longo período de cárcere representa arbítrio do Estado Juiz, pois, num sistema onde a liberdade é a regra e prisão uma exceção, não se pode tolerar uma situação como esta.

Foto: divulgação

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