Lixo toma conta das ruas e coletores cruzam os braços sem pagamento em Piúma

Os coletores de lixo de Piúma disseram que só voltam a trabalhar depois que receberem o salário atrasado

Sete coletores de lixo e dois motoristas que atuam nos caminhões de coleta da empresa “Limpeza Urbana”, que presta serviços ao município de Piúma estão com os braços cruzados há dois dias, enquanto isso o lixo toma conta das ruas. Eles afirmam que estão com pagamento atrasado desde o 5º dia útil, ou seja, desde o dia 09.

A Reportagem do Jornal foi chamada na manhã desta segunda-feira, 23, para informar a população que não haveria o recolhimento de lixo na cidade. A Reportagem entrou em contato com o secretário de Obras, André Layber para saber o que estava ocorrendo, mas ele não respondeu, segunda. Em contato com o chefe de gabinete da Prefeitura, o mesmo ficou de ir em busca de respostas, mas até a manhã desta terça-feira, 24, não havia informado ao jornal se os trabalhadores estavam realmente sem pagamento.

Nesta terça, 24, pela manhã, o jornal foi chamado novamente ao Galpão onde ficam os caminhões e de onde saem os coletores para trabalhar, no bairro Aparecidinha. No local, sete coletores e dois motoristas estão parados e asseguram que não tem como sair para trabalhar, além do pagamento atrasado, três dos cinco caminhões de coleta estão sem manutenção e quebrados, dois sem óleo, além dos veículos de suporte, duas Kombis fechadas, uma com carroceria e uma Van sem funcionar. Ou seja, todos os veículos danificados. Os dois que teoricamente funcionam estão também com problemas, na plataforma onde ficam os coletores e outros.

“O nosso pagamento está atrasado. Eu perguntei ao encarregado da empresa o mês passado se nós precisávamos parar para receber, ele falou que não precisava parar, porque a palavra dele que no dia 05 estaria na conta, hoje já é dia 24. Ele tem que cumprir com a palavra que fala. Eu perguntei para ele, em vez da resposta ele me deu um aviso prévio. Ele achou que ‘eu desafiei ele’, eu simplesmente corri atrás dos meus direitos. Eu sou um trabalhador pai de família. Eu preciso do meu salário, se eu não receber como vou pagar minha pensão e as despesas de casa”? Reclamou o coletor Derivaldo Barbosa, 29 anos, residente no bairro Niterói.

Em tempo, Deris afirmou que os trabalhadores estão sem o repasse do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, sem folga e sem o pagamento de horas extras. “Estamos sem nada, sem o depósito do FGTS, sem hora extra, sem nada. Mas errado não é a empresa, errado é quem renovou o contrato da empresa”, afirmou.

Há oito meses trabalhando para a empresa acusada de não efetuar o pagamento em dia, Gerson Bento Maria, 29 anos, morador do Centro. Ele afirmou que todas as contas estão sem pagar em casa. “Água, luz, eles não querem nem saber e se a gente reclamar acontece o que aconteceu comigo, rua. Me mandaram embora porque eu chamei o sindicato”, disse outro funcionário.  

Por falta de EPI – Equipamento de Proteção Individual – óculo de proteção, segundo informações de outro funcionário da empresa, um dos coletores acabou se acidentando na hora de compactar o lixo com chorume em um dos olhos e por pouco não perdeu a visão. Acabou tendo de fazer um transplante de córnea e se ausentar do trabalho por cinco meses. A empresa não assumiu a responsabilidade, o coletor ficou sem receber e não conseguiu encostar pelo instituto Nacional de Seguridade Social – INSS. A empresa insiste para que o coletor retorne ao trabalho. “Eles querem que ele volte a trabalhar, sendo que ele fez transplante de córnea, não pode ter contato com poeira, não pode correr e nem fazer força. Eles não mudaram ele de função e nem encostou e ele está sem receber até hoje”, contou outro funcionário que prefere não se identificar.    

Wilian de Souza Costa que trabalha a um ano, contou que o encarregado da empresa ligou nesta segunda para o galpão e ele foi buscar explicações e acabou sendo demitido por telefone. “Me xingou de palhaço, me xingou de tudo quanto é nome e me mandou embora. Eu fui reclamar porque lá em casa está sem nada. Estou trabalhamos em receber, tem dois meses sem receber. Todo mês é a mesma coisa, a empresa não paga nada”, reclamou.

Convém frisar que, as horas extras que os coletores fazem não estão recebendo e na conta deles, não há depósito de FGTS, o que abre outra discussão, uma vez que, uma das cláusulas do contrato é que, para a empresa receber o repasse da Prefeitura tem de fazer o depósito do Fundo de Garantia.

O “Sindicato dos Trabalhadores em empresas prestadoras de serviços de asseio, conservação, limpeza pública urbana e privada, conservação de áreas verdes, aterros sanitários e transbordo e de prestação de serviços em portarias e recepções no Estado do Espírito Santo” – Sindilimpe enviou representantes ao local, mas se omitiu a falar com o jornal. Por telefone a direção também não quis manifestar.

Prefeitura diz que pagamento foi feito nesta segunda a empresa

O secretário de Obras de Piúma, André Layber falou por telefone com o jornal, informou que a Prefeitura renovou o contrato de serviço de coleta de resíduos com a empresa “Limpeza Urbana” este mês, uma vez que, o serviço de limpeza foi encerrado em agosto de 2019.

Em tempo André assegurou que os repasses a empresa estão em dia, que a Prefeitura tem até 30 dias para fazer o pagamento e que o fez nesta segunda, 23, mas este não é o motivo da paralisação, uma vez que, a empresa deve ter um capital de giro que assegure os pagamentos dos funcionários.

Layber comentou ainda que a Prefeitura já notificou este ano a empresa três vezes e já tem motivos suficientes para rescindir o contrato.

O secretário disse não saber da falta de combustível aos caminhões e que estava recebendo a informação do jornal. “A empresa “Limpeza Urbana” está com alguns bloqueios judiciais trabalhistas. Alguns pagamentos que a Prefeitura fez, foram feitos em conta judicial, e nós estamos em dia com os pagamentos. O pagamento que estava em aberto é referente ao mês de agosto e, contratualmente, a Prefeitura tem até 30 dias para pagar. O mês de agosto tinha até 31 de setembro para acertar e repassou nesta segunda, 23, provavelmente a empresa vai estar visualizando este pagamento hoje, na conta dela. Até onde eu sei os funcionários não receberam o mês de agosto”.

De acordo com o secretário André, a Prefeitura entende que o cidadão não pode ser prejudicado e desta forma já trabalha para fazer uma nova licitação

”Hoje já tenho argumento suficiente para rescindir o contrato”, disse.

Em relação a coleta do lixo, estava entrando em contato com a empresa se ela não efetuar o pagamento dos trabalhadores e eles continuarem parados, a Prefeitura fará a coleta e notificará mais uma vez a empresa “Limpeza Urbana”.

“Estão tentando resolver”

Em contato com a empresa “Limpeza Urbana” por telefone, a informação é que apenas um mês está em atraso. Sobre as horas extras, os coletores estariam recebendo em folga. Em relação ao FGTS o jornal não obteve informação.

A funcionária responsável pelo pagamento dos coletores informou que ela também está sem receber e que, a Empresa disse que está tentando resolver o problema e deve efetuar o pagamento anda nesta terça, 24.

Sobre os caminhões sem manutenção e os carros quebrados, bem como, a falta de combustível para os dois únicos caminhões efetuarem a coleta em Piúma, não foi possível informações.    

Limpeza urbana

A empresa de limpeza urbana, alvo da Operação Rubi, recebeu pagamentos de cerca de R$ 60 milhões dos municípios de Presidente Kennedy, Marataízes e Piúma, de 2015 a 2018.

As apurações prosseguem com as análises dos materiais apreendidos e interrogatório dos investigados presos. Todos os investigados que foram alvo de busca e apreensão, mas não tiveram pedido de prisão solicitado pelo MPES, também serão ouvidos pelos membros do Gaeco. O caso segue sob sigilo de Justiça.