Historiador conta detalhes da história de Itapemirim

Por séculos, cenário de revoltas e de conquistas, de sonhos e de delírios, de declínios e progresso, Itapemirim, “caminho de pedra pequena”- 200 anos de emancipação política

Formado em História pela antiga Fafi – Faculdade de Filosofia e Letras Madre Gertrudes de São José, de Cachoeiro de Itapemirim, hoje Centro Universitário São Camilo, e apaixonado por história regional, Luciano Retore Moreno, atua como professor na Rede Estadual de Educação e reside há muitos anos em Itapemirim. Ele se identificou com a pesquisa histórica da região e desde então vem fazendo levantamentos importantíssimos relacionados a diversos municípios do Espírito Santo.

De Cachoeiro – município oriundo de Itapemirim, Luciano conta com bastante propriedade, detalhes da cidade que adotou para viver e remontar a sua história. Nesta entrevista será desvendado alguns mitos e verdades desta cidade que tem mais de 300 anos e completou no último dia 27, 200 anos de Emancipação Política.

 

O Rio Itapemirim e a emancipação

 

De acordo com Moreno, a navegação do Rio Itapemirim prosseguiu com algumas dificuldades até que em 1881, o Capitão Deslandes transferiu ao Português Simão Rodrigues Soares a concessão. Nesta nova fase, com a subvenção oficial de 18 contos de reis por ano, restabeleceu-se, ampliou-se a navegação, que atingiu também portos vizinhos e fez desenvolver no porto da Barra de Itapemirim como um novo centro urbano. A Barra de Itapemirim, com imponência do Trapiche, construído em 1866, e de outros casarões e igrejas do final do século. Mas a região empobreceu e servia apenas de entreposto comercial para o interior que sucessivamente aumentava sua produção cafeeira. No governo de Muniz Freire (1892 a 1896), foi feito um contrato para estabelecer um engenho central em Itapemirim, entretanto somente no Governo Jerônimo Monteiro (1908 a 1912) houve a efetivação de medida, com a criação da Usina Paineiras, destinada a modernizar e ampliar a produção de açúcar, substituindo os velhos e antieconômicos engenhos.

Retore lembra que o desenvolvimento de Itapemirim se deu a partir do Rio associada a posição geográfica da cidade. Itapemirim surge mesmo como uma fazenda de açúcar em 1710. “Na verdade, Itapemirim tem 305 anos de história e 200 que está se emancipando politicamente. No início do século XVIII, houve o desbravamento desta região e então surgiu a Fazenda de Açúcar, exatamente onde hoje está a cidade mais próxima, Vila nasceu um pequeno povoado, que se chamou povoação de Itapemirim em 1750. O Rio Itapemirim foi importante por conta das possibilidades que ele promove: água potável, a ligação com as plantações e também por estar perto do mar, se tornou um excelente ponto de parada”, disse.

Outro fator importante, ligado ao Rio, destaca Luciano, é a proximidade com a capital do estado e com o Rio de Janeiro, na época capital do Império. “Nossa região acaba tendo uma vantagem geográfica interessante, pois muitos comerciantes passavam por aqui com os produtos, muitos fazendeiros migraram para cá, também como o Barão de Itapemirim. Em 1776, esta povoação de Itapemirim passou a pertencer a Guarapari que era administrado por Vila Velha. Esta povoação que já havia se transformado em Freguesia, se emancipou em 1815, no dia 27 de junho. Dom João, que fugia de problemas na Europa, mais especificamente das tropas de Napoleão Bonaparte, veio para o Brasil e aqui ele emancipou nossa região. Durante todo Império, Itapemirim foi governado pela Câmara Municipal, não havia prefeito”, contou Moreno.

O progresso tornou-se tal que, pelo Alvará de 27 de junho de 1815, foi criado o município de Vila de Itapemirim, sendo o patrimônio da Câmara demarcado pelo Ouvidor José Libano de Souza, numa área de meia légua quadrada e instalada a 9 de agosto de 1815. Nesta época, havia nove engenhos de açucar desde a foz do Rio Itapemirim até as cachoeiras onde hoje fica a cidade de Cachoeiro de Itapemirim.

 

Elites governavam

 

Ressaltou Luciano, que quando foi Proclamada a República, houve um período de ajustamento até desmembrar as funções e surgir a Prefeitura Municipal e a Câmara ficou restrita apenas a fazer as leis e fiscalizar o Executivo. “Nesse período, quem administrava a Câmara era a Intendência Municipal, enquanto isso, estava ocorrendo a nível federal, por exemplo, estava sendo feita a nova constituição, e o ES também estava fazendo a sua constituição. Em 1893 foi escolhido o primeiro prefeito de Itapemirim pelos vereadores”.

Como ocorre ainda nas entrelinhas da política, não era qualquer um que poderia ser escolhido para ser prefeito de uma cidade, ainda mais naquela época. Retore, frisa que cabia às elites do local exercer o poder. “Eram fazendeiros da época, e os grandes comerciantes que eram os vereadores. Creio que nessa época, os fazendeiros e comerciantes ganhavam mais prestígio se o município avançasse um pouco mais, pois assim eles poderiam ser vistos como lideranças”.  O primeiro prefeito de Itapemirim foi Dr. José Moreira Gomes.

 

 

Foto: Luciano / Arquivo Pessoal

Legenda: Luciano Retore conta com detalhes sobre a história de Itapemirim

 

 

 

Compartilhe nas redes sociais

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *