“É nois”, é “nóis mermão”!

Neste momento, de boa, tô me lixando para qualquer crítica, mesmo que esta venha daquele ‘coiso’, que eu me recuso a escrever e falar o nome, quando se refere a nós jornalistas como vagabundos, ou quando ele generaliza em suas agressões verbais com qualquer outro adjetivo. ‘É nós, sim mermão’, você entendeu ou quer que eu desenhe?
Sei que os críticos da nossa Língua sentem cólicas quando visualizam um erro de concordância, ou mesmo gramatical. Eu sou assim também, mas eu também ‘como’ letras e cometo erros grotescos, o pensamento é mais rápido que a palavra a ser escrita. Sei que há os que parecem se masturbar com a gramática, a todo tempo emitem julgamentos e mais julgamentos. Têm tempo, com a bunda colada no sofá confortável, para buscar detalhes que no momento, tô nem aí…
Há em meu esôfago uma espécie de um bolo que não desce e não sai por nada, fica atrapalhando até a saliva escorregar. Uma coisa tipo refluxo que quando fico irritada ou nervosa, piora. Hoje tô assim, já me irritei, chorei e sorri.
Mas vamos aqui, que ‘é nóis’, como diz Paulo Marley, nós que ficamos acordados a noite atendendo e procurando respostas, tomei chuva e por pouco não cai em uma cratera na orla em frente a Loira, nós que varamos a madrugada em busca de solução, nós que fizemos lives, áudios, fotos, fizemos dezenas de postes no instagram, veiculamos na mídia pedindo para ter cuidado e atenção, pedimos comida, água e pedimos socorro. Bora lá… Vamos abrir o canal, bora lá…
Sim, nós vagabundos, como diz o ‘coiso’ que saímos cedo em busca leite e pão para dividir com os irmãos que estão na lama, na chuva e no tempo raspando o chão.
‘É nós mermo’ tá entendendo, que levamos o ‘salame’, o leite, o chocolate, o biscoito, o copo descartável. ‘É nóis’ que improvisamos um áudio e abrimos a tampa do porta-malas para chamar ‘os irmão’ para ir comer um pedaço de pão, na rua, numa mesa improvisada achada no meio do nada. Aí você vem falar da minha oralidade. Vem fazer críticas a minha linguagem, a forma que eu mando a letra pro’cê entender!
Uma coisa eu te falo e se quiser me julgar fique à vontade, que na altura do campeonato eu tô é no lucro. Minha casa tá limpa, meu fogão e a botija estão no lugar, minha roupa passada na gaveta, Ana fez a salada e a carne grelhada, tem até picolé pra sobremesa.
Eu chorei sim, antes de ver o piano, as memórias cobertas por sei lá o quê, os instrumentos da “13 de Junho” sujos, os livros jogados no chão, as prateleiras entortadas, a história coberta pela tragédia, o museu, ah, os quadros – Zoé Rodrigues Misságia, reze por nós!!!!
Chamada de sensacionalista, oportunista, ridícula, lógico, eu não era da TV. Por pouco ela não me deu uma vassourada de lama na cara porque eu queria saber se este capítulo da história era mais forte e mais dolorido que o 94. Estava lá apenas para registrar e levar um pouco de afeto para aquela dor, no exercício de minha função, tantos adjetivos atrás daquela vassourada que confesso: servir a autoridade da cidade um café no copo de “prástico”, ele com a mão rasgando o pão e ‘botando’ uma rodela de salame, deu-me a certeza, caríssimos críticos, de que, vagabunda ou repórter, a tragédia me ensinara mais uma lição: Na dor e na lama, “é nóis, somos todo irmão, mermão”!

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