DORMINDO COM O INIMIGO: o assassino matou Roseli, com um tiro na cabeça, enquanto ela dormia no chão da sala da casa dele

Assassino premeditou, matou Roseli enquanto ela dormia no chão, com um tiro na fronte, e depois enterrou o corpo na praia das Neves

Foto Polícia Civil./ Local onde ele emnterrou o corpo dela

Chega parecer enredo de filme de suspense. O namorado convida a namorada para assistir a um jogo do seu time favorito, num domingo à noite, em sua casa. Mas antes ele prepara todo o cenário de horror que vai conduzir a trama até a cova rasa, no meio da restinga, numa praia deserta.

Fazendo tipo sedutor, o pecuarista de 54 anos prepara todo o ritual. Municia a pistola, enquanto ela dorme sobre um cobertor, no chão da sala em sua casa. Depois ele dispara, na cabeça dela, envolve o corpo em um lençol e numa coberta e sai para lanchar, está com fome.

Roseli foi assassinada com requintes de frieza – foto Arquivo pessoal

Depois de matar a vendedora com um tiro, o algoz cria uma narrativa, contando à polícia que ela estava perturbando-o, e o ameaçando. Caso ele não ficasse com ela, perderia as duas, pois ela revelaria o caso deles para sua namorada oficial.

Para tentar despistar a polícia, o covarde feminicida pega o carro dela, um Corola e percorre a cidade até a uma viação de ônibus, onde fecha e o abandona com os pertences dela; menos o celular, que ele disse à polícia não saber onde está. E lá vem ele pelas ruas da cidade, a pé, até a sua residência, onde está o corpo. Por 36 minutos, contados e filmados pelas câmeras dos estabelecimentos comerciais da cidade, onde deixou o carro, ele caminha pela Aristides Campos, até o Santo Antônio, na Capital Secreta do Mundo.

Com tudo pensado, o assassino parece entender um pouco de lei, porque não atende a Polícia em sua casa, mesmo os agentes da lei chamando-o várias vezes no portão. Claro, o corpo dela está na sala ainda. Ele sabia que a Polícia não tinha mandado e não iria forçar a entrada em sua casa. Ele dormiu em casa com o corpo na sala, o deixa até o dia seguinte, quando ele decide colocá-lo na sua camionete e sai em direção a uma distante e deserta praia, onde ele cava durante duas horas com uma pá e uma picareta. Lá ele faz uma cova rasa, na areia, no meio da restinga e enterra o corpo dela.

Todos muito aflitos: os familiares, os amigos, os colegas de trabalho, os patrões, até que não conhecia Roseli começa uma corrente de oração para que ela voltasse viva.

As cenas não são de filme de filme de suspense, são do feminicídio cometido domingo, 17, contra a vendedora Roseli Valiatti, residente no bairro Coronel Borges em Cachoeiro de Itapemirim.

NÃO SE ATENTOU PARA AS CÂMERAS

O feminicida Alexandre Nunes, 54 anos, residente no bairro Santo Antônio, em Cachoeiro de Itapemirim, não teve mais para onde correr e acabou sendo preso, na casa da outra namorada, na tarde desta quarta-feira, 20, pela Polícia Civil – PC que trabalhou incessantemente desde domingo; 17, quando a família da vendedora Roseli Valiatti deu queixa na Delegacia do suposto desaparecimento dela.

Na delegacia o assassino confesso entrou em contradição na primeira oitiva, quando foi intimado, na segunda-feira, 18, pela manhã. Mas a PC estava no rastro dele e trabalhou com detalhes até a prisão, onde ele confessou ter convidado Roseli para assistir ao jogo do Flamengo com ele, e depois a matou, enquanto ela descansava na sala de sua casa. Ele aproveitou que ela dormia, foi ao cofre, pegou a pistola, municiou com apenas uma bala e atirou na fronte. Ela morreu dormindo, segundo a versão dele.

O delegado Felipe Vivas, titular da DHPP, concedeu uma coletiva à imprensa, na Delegacia, e detalhou como tudo aconteceu, de acordo com o depoimento do pecuarista.

TINDER

Roseli havia conhecido Alexandre em um aplicativo de relacionamentos – Tinder. A princípio, ele se apresentou com nome falso para ela. Em sua versão, disse ao delegado que o crime foi um ato desesperado para acabar com um relacionamento que ele não queria mais, pois ele tem outra namorada há cerca de um ano. Disse em seu depoimento que não conseguia terminar, por insistência da vítima, que teria o ameaçado dizendo que revelaria o relacionamento deles para sua outra namorada.

Contou o assassino que estava mantendo relacionamento com Roseli, a princípio amoroso, entretanto, teria se tornado uma amizade, e era apenas isso que ele queria. Contudo, diante das supostas ameaças dela, em não querer o fim do relacionamento, então decide matá-la.

AS ARMAS

De acordo com a PC, o pecuarista possui duas armas devidamente registradas, uma carabina e uma pistola, suposta arma do crime. Munições também foram apreendidas na casa do autor do crime. Ele não tinha autorização para aquisição destas munições com calibres incompatíveis com suas armas.

O VEÍCULO É A PISTA PRINCIPAL

As suspeitas de que era o namorado de Roseli o responsável pelo desaparecimento e assassinato dela começaram após os familiares localizarem o veículo Corolla da vendedora. O delegado, sua equipe e familiares de Roseli foram até o local, lá a autoridade policial se deu conta que não se tratava de um simples desaparecimento. “Percebemos que era um desaparecimento atípico por ter sido encontrado a bolsa da vítima em seu carro”, relata.

Felipe Vivas tomou conhecimento, naquele momento, que a vendedora estava se relacionando com uma pessoa e que teria saído de casa para se encontrar com o referido namorado.

“De imediato identificamos essa pessoa e fomos até a casa dele. Chegando lá, o carro estava na parte de fora da residência, o que demonstrava que ele estava em casa. Os policiais começaram a chamar e ele não atendia. Isso aí despertou mais ainda a estranheza. Se a pessoa está em casa por que ela não atende? Então deixamos uma intimação para ele e, paralelamente a isso, começamos a analisar imagens das imediações da residência dele”, contou o delegado.

O que os policiais não imaginavam é que no momento em que o suspeito não atendeu a Polícia, na segunda pela manhã, o corpo de Roseli ainda estava na casa dele, na sala, enrolado em um cobertor.

Depois de não abrir a porta para a Polícia, o pecuarista resolveu ocultar o corpo da namorada. Entrou de ré na garagem com a sua Camioneta Ranger 4x 4, Placa PP40F69, colocou o corpo na carroceria e seguiu em direção a Presidente Kennedy, com uma picareta e uma pá. Na localidade da Praia das Neves, aproveitando o terreno arenoso, ele fez uma cova rasa e enterrou o corpo.

A camioneta usada para levar o corpo de Roseli até Praia das Neves

O delegado afirmou que, jamais seria possível localizar o cadáver naquele local, se ele não levasse a Polícia até lá. 

ENTENA O QUEBRA CABEÇA DA INVESTIGAÇÃO

As câmeras dos comércios ajudaram a Polícia Civil a desvendar todo o crime e prender Alexandre que, diante das imagens, não teve mais como continuar sustentando a mentira.

Uma câmera localizada no Hotel Rinkão flagrou o pecuarista voltando, a pé, do local onde abandonou o carro de Roseli. Ele estava de boné, o mesmo encontrado em sua casa.

A equipe do delegado Felipe Vivas trabalhou muito para desvendar o crime

Pelas câmeras próximas à casa de Alexandre foi possíveis registrar cenas de Roseli entrando na casa e depois ele saindo. “Só foi possível a elucidação deste crime diante dos inúmeros estabelecimentos que compartilharam as imagens com a polícia. Nós conseguimos, por meio das análises das imagens, verificar que o veículo da Roseli chegava na residência desta pessoa 18h48. Ela manobrou na rua e parou em frente ao carro dele.  Às 20h59 este veículo deixa o local, segue pela Aristides Campos. Eu conversei com a minha equipe e disse: se este veículo seguiu e foi abandonado lá, vamos analisar as imagens e vê-lo chegando. E começamos a procurar imagens e mais imagens.  Analisamos todas as imagens no trajeto e confrontamos com as outras informações que tínhamos, daí conseguimos saber mais ou menos o horário em que ele estava em casa, 21h46. E se o carro saiu às 20h59, nós tínhamos de 21h00 às 21h46 para analisar. Nisso começamos a observar que um indivíduo entra na rua às 21h44, caminhando. Não dava para ver se era ele, decidimos então seguir o rastro contrário. Eu disse a minha equipe, eu quero ver desde o Rinkão pra cá, e não deu outra. O cara vem caminhando desde o Rinkão até a casa dele, 21h44. O policial nosso fez o caminho a pé, para ver quanto tempo ia levar, demorou 36 minutos da Viação Itapemirim à casa no bairro onde mora. Já tínhamos elementos suficientes. Quando ele veio intimado na segunda-feira, disse que tinha contato com Roseli, mas, naquele dia não, pois ele ficou vendo o jogo do Flamengo. Continuamos analisando as imagens e vimos que, às 22h01, ele sai com o veículo dele. Quem é flamenguista sabe, um torcedor não vai abandonar o jogo do Flamengo na metade. Tinha alguma coisa estranha, o cara é flamenguista como ele disse. Às 22h24 ele retorna. Nós representamos por algumas medidas e  conseguimos comprovar que a dona Roseli esteve no ambiente em determinado horário, a partir de então, nós representamos por busca e apreensão e por prisão temporária dele. Nós conseguimos efetivar a prisão dele ontem à tarde, na casa da namorada. Quando fazemos a prisão dele, a ficha dele começa a cair, mas ele se mantém meio arredio e frio. Fomos à casa dele, quando chegamos, a casa estava intacta, limpa. E ele, seguro de si, mas depois que começamos a conversar e mostrar o que a gente tem, diante de uma situação desta, ele de fato veio falar que aconteceu”.

Preso, Alexandre confessou o assassinato

O delegado frisou que, no interrogatório, perguntou ao pecuarista se ele sabia o que ia fazer com Roseli, diante da suposta insistência dela para continuar com ele, ele disse que sim. “Eu ia resolver de uma forma ou de outra. Eu a convidei no domingo para assistir ao jogo do Flamengo lá em casa. Ela chegou lá, falou que estava cansada, que ia dormi um pouco. Chegamos a discutir, eu falei que não queria o relacionamento, ela falou que queria, insistiu e depois que ela adormeceu, ele resolveu matá-la. Foi ao cofre dele pegou uma arma registrada que ele tem, alimentou com uma munição, se aproximou, encostou a arma na fronte dela e disparou, dentro de casa.  Depois disso, puxou a coberta que ela estava deitada no chão, pegou um lençol, enrolou na cabeça dela e deixou lá, saiu por volta das 22h00 para fazer um lanche, depois retornou para casa e, no dia seguinte, a PC vai à casa dele, ele vê a Polícia pela janela e não nos atende porque o corpo estava na sala. Ele veio à delegacia, prestou depoimento, volta para casa. Por volta das 20h00, entra com o carro de ré, coloca a Roseli na caçamba e segue com ela para a Praia das Neves, lá ele a enterra e volta para casa”, detalhou o delegado Felipe Vivas.

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