Cachoeiro se despede do Comendador Helinho, ex-professor do Conservatório de música, vencedor da 1ª edição do Festival de Alegre, irmão de Sérgio Sampaio

Helinho vai ao encontro dos irmãos Dedé Caiano e Sérgio Sampaio e deixa a cultura de Cachoeiro de Itapemirim de luto

No palco do Bar do Jonas em Piúma

O maior professor de violão de Cachoeiro de Itapemirim, o compositor e cantor Helinho Sampaio foi encontrado morto por colegas de trabalho que sentiram a sua falta e foram a sua casa, nesta segunda-feira 14, na casa onde residia, no bairro Baiminas, em Cachoeiro de Itapemirim.

O atestado de morte diz que foi causa indeterminada, mas suspeita-se que ele tenha sofrido um infarto fulminante e morrido na hora. Ele sofria de diabetes e estava na fila para fazer a segunda cirurgia de cataratas.

A reportagem conversou com a coreógrafa Luciá Sampaio, sobrinha de Helinho que trouxe detalhes da vida do tio, desde a época em que ele bebia e vivia nas ruas da cidade.

Helinho é irmão do compositor e cantor Sérgio Sampaio e do artista multimidia Dedé Caiano, também compositor, certamente estão juntos fazendo melodia em outra dimensão.

De uma família com raízes findadas nas várias vertentes da cultura, Helinho tocava violão como maestria e ensinava no Projeto Novos Talentos da Secretaria de Cultura de Cachoeiro de Itapemirim.

Luciá falou com orgulho de Helinho que venceu o primeiro Festival de Música de Alegre e foi um dos maiores professores de música do Conservatório.

A secretária de Cultura e Turismo de Cachoeiro de Itapemirim, Fernanda Maria Merchid Martins Moreira destacou que Helinho Sampaio foi um ícone para a cultura do município. “Ele foi um grande colega de trabalho, um grande educador musical, teve uma produtividade maravilhosa no projeto Novos Talentos, sem contar no artista grandioso que o era. Tinha uma alma generosa, era um cara bacana de se conviver, vai fazer muita falta para a cultura cachoeirense, vai fazer muita falta para o alunos que tão bem ensinava, fará muita falta para nós, os amigos que tiveram o privilégio de conviver com ele  estes anos todos. Esperamos que ele esteja num bom lugar e que a música, a arte e acultura sempre prevaleça porque Helinho viveu para estas coisas. Ele viveu para fazer este mundo mais bonito, mais feliz, mais rico”, ressaltou Fernanda, secretária de Cultura de Cachoeiro.

Em 2017 Helinho Sampaio foi a atração especial do show “Sérgio Sampaio 70” (classificação livre), realizado em Cachoeiro de Itapemirim, no Teatro Municipal Rubem Braga.

Comendador

Helinho foi condecorado duas vezes em Cachoeiro com a Comenda Maestro Raul Gonçalves Sampaio, para homenagear pessoas que tenham prestado relevantes trabalhos como maestro, regente ou músico de bandas musicais, bandas marciais, fanfarras e orquestras.

Sepultamento

O sepultamento de Helinho Sampaio será às 14h no cemitério municipal do Coronel Borges. Sem velório pelo adiantado tempo de falecimento.

O álcool o levou a morar anos nas ruas

Jonas foi um grande amigo de Helinho em Piúma

Foram 25 anos bebendo cachaça de bar em bar. Helinho e o violão, a decadência, as ruas, o abandono de sim mesmo, a solidão, a depressão, e a libertação. Tanta rima seguida para relembrar um pedaço triste da vida do mestre que se perdeu e se achou com ajuda de amigos.

O comerciante Jonas Figueiredo, dono do famoso Bar do Jonas em Piúma encontrou Helinho na praia completamente entregue a dependência do álcool. Ele e Keidma serviram comida e água e passaram a cuidar de Helinho, que chegou a morar literalmente no palco do bar, onde ele dormiu muitas noites.

Jonas e Keidma foram os maiores incentivadores para Helinho deixar o álcool e, há 10 anos com autorização da sobrinha Luciá Sampaio e total apoio de Jonas o cantor fez um tratamento oferecido por um amigo de Minas Gerais que o conheceu também na praia. Este amigo custeou quatro meses o tratamento e Helinho se libertou do vício tendo a vida refeita.

Helinho fez parte da diretoria do Bloco Morto Vivo em Piúma

Sofreu de depressão depois que voltou de Minas, mas encontrou apoio em Piúma, a sobrinha Luciá Sampaio ajudou custeando despesas em uma casa alugada e Jonas e a esposa davam o suporte que ele precisava. “Helinho nunca fez mal a ninguém, ele ficou no meu bar meses, acabava até tomando conta. Dormia no palco. Dono de um talento nato, ele tocava e brincava com maestria. Fez parte da diretoria do Bloco Morto Vivo, estava conosco no dia a dia. Enquanto esteve em Piúma nós o acolhemos em tudo que ele precisou. Fica agora uma saudade imensa”, disse Jonas.

Idas e vindas

Helinho estava morando sozinho embaixo de uma casa de uma amiga da sobrinha Luciá que o prometeu que, enquanto ele não bebesse, estaria junto para o que desse e viesse. “Se eu tiver R$0.50 centavos, R$025 é seu e nós estamos juntos. Eu aluguei uma casa para ele em Piúma, mobilhei, paguei uma mulher para fazer faxina e o Jonas se comprometeu servir almoço e janta enquanto ele ficasse sem beber”, contou.

Tempos depois a contadora de História Maria Elvira Tavares Costa em Cachoeiro do Itapemirim com intermédio do vereador Higner Mansur conseguiu um trabalho para ele no CRAS de vigia no bairro Zumbi.

“Ele veio e foi morar no Zumbi numa casa que arranjou, mas foram lá e roubaram tudo dele. Ele havia conseguido comprar violão, televisão, todas as coisas de dentro de casa, levaram tudo. Eu fui atrás dele e o convidei para morar no depósito de decoração de festa que eu tinha, com uma cozinha montada com banheiro e chuveiro quente. Ajeitamos tudo com colhão… E ele ficou morando sem ter nenhuma despesa e ele foi juntando dinheiro. Quando ele ganhou duas comendas em Cachoeiro, uma da Câmara e uma do prefeito, eu disse que era hora dele ter um cantinho melhor”, contou Luciá.   

Helinho, segundo Luciá, nunca teve envolvimento com drogas, mas o álcool o levou a morar nas ruas durante anos. Uma pessoa de alma livre, deixou a casa para que o filho não o visse bêbado em casa.

Por último, Luciá disse que comendador merecia uma casa a altura e arranjou uma para ele morar no bairro Baiminas contudo a enchente foi lá e destruiu tudo, não deixou nada. A proprietária do imóvel reformou tudo, das janelas as portas. Tudo pronto, só faltava aquela faxina geral, mas ele foi embora e não se despediu. “Tio Helinho… Estou com meu peito sangrando. Por que foi embora agora? Deixando esse vazio? Tanta coisa pra viver, pra cantar/compor, pra curtir com seu tear novo. Pra ensinar seus alunos a pureza do seu talento. Menino alegre que se contentava com pouco. Dizia que eu cuidava de vc… e agora? “Eu te jetemo” vc falava pra mim ou “te ailovi”. E eu: te jetemo e te ailovi também tio”…

Homenagem do Projeto Novos Talentos ao nosso eterno professor Helinho Sampaio (vídeo de Lucimar)

O coordenador do Projeto Novos Talentos, Lucimar Costa fez uma homenagem ao professor Helinho Sampaio. “Foi muito gratificante ver a sua forma de ensinar, o método Helinho de fazer com que crianças e adolescentes aprendessem dar as primeiras notas no violão, a sua forma desajeitada, mas mesmo assim encantadora de se ver e eficiente nos resultados como nas apresentações de sua pequena orquestra de violões nos encerramentos do Projeto.

A sua alegria era tão grande quando percebia que um aluno conseguia tocar a primeira música, que ele não aguentava assistir sozinho, gravava o momento e mandava para a gente o vídeo pelo WhatsApp.

Toda semana ele entrava no Arquivo Público de Cultura (principalmente agora neste momento de pandemia, para gravar as suas aulas que eram enviadas pelo WhatsApp para os seus alunos), e contava um monte de histórias vividas, e olha que não são poucas, suas experiências com os alunos, a evolução deles que o encantava tanto.

A felicidade de tocar, ensinar e viver era tanta que falava e ria tão alto e rápido que não tinha como não contagiar quem estava na sala ou por perto. Parecia um relâmpago, chegava, iluminava tudo, enchia o ambiente de sons e ia embora tão rápido como chegou.

Nós perdemos um amigo companheiro de todas as horas que não sabia dizer não, um músico que amava a sua arte, um professor orgulhoso de seus alunos e de seus resultados … Mas teremos as lembranças de um homem lutador, vencedor, alegre, companheiro e acima de tudo um ARTISTA, daqueles que só nascem em Cachoeiro.

Um BRAVO!!! para você Helinho de toda equipe do Projeto Novos Talentos … nosso muito obrigado por tudo que você fez por nossa arte. E fica conosco a lembrança de sua contribuição para a música cachoeirense”.

Dedé Caiano

O multimídia Jorge Moraes Sampaio ou simplesmente Dedé Caiano, que vem a ser irmão do Sérgio Sampaio, foi parceiro do Raul Seixas, naquela música “Anos 80”. E o Dedé era um camarada assim multimídia. Nunca fez nada direito. Aquele cara mexia com tudo. Com pintura, com música, dava aula. Mas era um maluco. Ele divulgou e propagou muito o esquema de poemas visuais, que consistia em fazer poemas/poesias em formas de desenhos ou contornando algum desenho.

Sérgio Sampaio

Sérgio Moraes Sampaio foi um cantor e compositor brasileiro. Suas composições variam por vários estilos musicais, indo do samba e choro, ao rock’n rollblues e balada. Sobre a poética de suas composições, em que se vê elementos de Kafka e Augusto dos Anjos, que lia e apreciava, declarou num estudo Jorge Luiz do Nascimento: “A paisagem urbana em geral, e a carioca em particular, na poética de Sérgio Sampaio, possui a fúria modernista. Porém, o espelho futurista já é um retrovisor, e o que o presente reflete é a impossibilidade de assimilação de todos os índices e ícones da paisagem urbana contemporânea.

Raul Sampaio

Raul Sampaio Cocco foi o compositor da música Meu pequeno Cachoeiro interpretada pelo cantor Roberto Carlos em homenagem a cidade onde ambos nasceram.

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