Sabe Mãe

 

Sabe, mãe, estive lembrando… quando eu  era pequena, a senhora fazia duas tranças no meu cabelo, amarrava uma na outra e me dava a mão para me levar ao Jardim de Infância. Também não me esqueço de que toda atividade que tinha na escola para se vestir de caipira, ou para carregar a bandeira no sete de setembro, ou para ser a holandesa no desfile de aniversário da cidade, lá estava a senhora, nos bastidores, para me produzir e fazer com que eu estivesse presente em todos os eventos.

Sabe, mãe, como esquecer aquele dia em que me deu uma coça? Lembra? Eu não queria nunca lavar o cabelo, até corria para que meus longos fios escorridos não vissem água nunca! Ri tanto, mãe, esses dias… lembrei quando cheguei altas horas e a senhora com uma vara na mão para me pegar… só que eu corri mais e, no momento em que conseguiu me alcançar, já estava debaixo das cobertas, fingindo que estava dormindo, e a senhora acabava desistindo da palmatória.

Sabe, mãe, que bom que ficava na varandinha me esperando chegar da faculdade. Lembra quando ficávamos até tarde assistindo à Hilda Furacão? E quando cheguei e a senhora, cansada, foi dormir e eu fiz o maior barulho fazendo bolo até uma da madrugada? A senhora levantou e, é claro, chamou-me de doida, mas sei que me desculpou. Naquele dia, a fome que eu senti, depois que cheguei da faculdade, era tanta que não dava para esperar.

Sabe, mãe, durante muito tempo fomos só nós duas. Papai partiu muito cedo, minhas irmãs casaram e ficamos nós: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até… minha filha nascer. Ela trouxe um colorido para nossas solitárias vidas. Para mim, a responsabilidade de ser mãe. Para a senhora, uma companheira nos momentos em que eu estava ausente. Pois é, nessa época, cheguei a trabalhar nos três horários possíveis para se dar aula e a senhora lembra de que ficávamos meses e meses sem nenhum pagamento? Esse período não foi mais difícil porque tive a sua presença em minha vida.

Sabe, mãe, foi tão legal ganhar o primeiro prêmio de literatura, lá em Vitória, no auditório da TV Gazeta! A senhora ficou orgulhosa, não foi? E quando eu recebi minha primeira Comenda? Vi seus olhinhos brilharem. E no dia do lançamento dos meus livros? A família toda reunida! E o seu discurso de amor às filhas? Foi emocionante e inesquecível.

Sabe, mãe, a senhora não está mais aqui. Papai do céu te chamou. Mas, mesmo com muitas lágrimas nos olhos, quase não conseguindo terminar esse texto, eu sei que o tempo que queremos, ao lado da pessoa que amamos, nunca é o suficiente. Porém, tenho um tantão de lembranças para contar e assim poder me confortar com essa ausência que dói demais. Afinal de contas, não foi só o lado mãe que foi embora, mas também minha melhor amiga, minha confidente, minha conselheira, minha…

Sabe, mãe, li para a senhora a dedicatória que fiz lá na minha dissertação do Mestrado. Nela, não poderia faltar uma homenagem para as três mulheres da minha vida. Para vovó, agradeci por ter me ensinado a ser “usada” e não velha. Para minha filha, por me ensinar a ser mãe. Para a senhora, por ter me dado asas para poder voar com os estudos, pois sei que foi esse o caminho que, desde criança, lá no desfile da pré-escola, a senhora já trilhava para mim.

Sabe, mãe, antes de a senhora partir, ainda segurou minha mão com tanta força, e então eu soube que ali seria nossa despedida. Mas entendi que também era um sinal para prosseguir. E é isso que faço a cada dia que passa. No momento, mãe, só nós duas vamos entender o que eu tenho para lhe dizer:

– Sua bênção, minha mãe…

LI E GOSTEI

O livro Histórias de ninar para garotas rebeldes, de Elena Favilli e Francesca Cavalli, traz histórias de mulheres reais que deixaram suas marcas na carreira da vida. Entre as cem mulheres de todo o mundo citadas no livro, encontramos a nossa querida Cora Coralina.

ASSISTI E GOSTEI

O filme O Diário de Anne Frank, 2016, dirigido por Hans Steinbichler, baseado no que Anne escreveu sobre o que presenciou durante a Segunda Guerra Mundial, faz-nos refletir a respeito dessa grande tragédia mundial.

FRASE DO DIA

 

OUVI E APROVEI

E lá da internet, na letra de Roginei Paiva: Ruptura com o passado/ Desbunde intelectual/ Semana de Arte Moderna/ Foi o marco central…

 

E A LÍNGUA PORTUGUESA GARIMPANDO NOVOS TALENTOS…

A Cortina Amarela

E aquele belo sol

Passando pela janela

Guiando como um farol

As luzes na doce cortina amarela

 

Era só mais um sorriso,

Mas havia muito mais ali

Era um coração perdido

Uma alma sem caminho para seguir

 

Um sentimento estranho

Como se nada fosse passar

E assim, dia-a-dia ia levando

Planejando um dia acabar

 

Porém, aquela doce cortina amarela

Todo dia abrindo fechando

Não acabava com a tristeza dela,

Mas acabava triste a deixando

 

Tudo pareceu bem

Até uma grande decepção

A menina não tinha mais ninguém

E ficou sem outra opção

 

A partir daquele dia

A cortina não ia mais fechar,

Pois aquela bela menina

A vida resolveu tirar.

 

Natasha Louzada

Piúma-ES

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