As Mulheres do Espírito Santo

A História revela que a mulher sempre foi discriminada em todas as épocas e o seu papel na sociedade nem sempre foi considerado preponderante e fundamental. O valor dado à mulher, nas civilizações antigas, igualava-se ao mesmo valor dado aos escravos, isto é, nenhum.

Na sociedade moderna, até relativamente pouco tempo, a mulher tinha o seu casamento negociado pelo pai, não aprendia a ler, nem podia raciocinar, coisas que o homem fazia por ela, como não decidia nada sem a autorização do marido e, muito menos, tinha direito ao voto, conquista somente alcançada em 1893 na Nova Zelândia; em 1903 na Austrália; em 1906 na Finlândia; em 1913 na Noruega. A Inglaterra e os Estados Unidos, países pioneiros do movimento em prol do sufrágio feminino, só o estabeleceram, com restrições, em 1918 e 1920 respectivamente. No Brasil, só a partir de 1934.

Em sua luta em busca de um espaço, a mulher brasileira confirma uma tomada de posição dentro da sociedade, no lar, no trabalho profissional, junto a família. A sua presença no Brasil de hoje está nas universidades, nos centros de cultura, nas Academias de Letras e nos mais variados setores da ciência e da vida político-social brasileiros. Também no Espírito Santo, temos as nossas mulheres pioneiras, que souberam, com inteligência e dignidade, lutar por um posicionamento na política, na administração pública, nas ciências, letras e artes, na aviação e na educação, além de outras atividades importantes ao desenvolvimento do Espírito Santo contemporâneo. Exemplo disso, são D. Luiza Grimaldi – A mulher que governou o Espírito Santo, sucedendo ao seu marido, o Donatário Vasco Fernandes Coutinho Filho, quando de seu falecimento. A Donatária governou a antiga Capitania do Espírito Santo, de 1589 a 1593. Soube ser generosa ou enérgica quando se fez necessário, ao reprimir a tentativa de invasão pelo corsário inglês Thomas Cavendish em 1692.

Maria Ortiz – A nossa heroína contra o invasor estrangeiro; Dra. Adalgisa Lobo de Azevedo Cruz – A primeira farmacêutica; Dra. Odete Braga Furtado – A primeira advogada; Dra. Adalgisa Amanda da Fonseca – A primeira mulher médica; Dra. EuridiceO´Reilly de Souza – A mulher dentista pioneira; Dra. Maria Lúcia da Almeida Viana – A primeira parteira formada; Magdalena Piza – Professora e educadora de grandes méritos. Prestou relevantes serviços à causa educacional. A primeira mulher a exercer o cargo de secretário do Estado, ocupando a pasta da Educação e Cultura no Governo Santos Neves; GenyGrijó – A primeira mulher vereadora, junto à Câmara Municipal de Vitória; Judith Leão Castello Ribeiro – Professora, educadora emérita e a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Assembleia no Estado do Espírito Santo, por quatro legislaturas seguidas, de 1947 a 1963; EmilianaEmery – A mulher pioneira na indústria. Fundou uma fábrica de doces caseiros em Guaçui no sul do estado, na década de 30. Com o direito ao voto feminino alcançado em 1934, foi à primeira mulher eleitora. O seu título de eleitor tinha o nº 1; Maria Antonieta Tatagiba – Como poetisa, foi à primeira mulher a editar um livro de poesias, sob o título “Frauta Agreste” em 1927; Zilma Coelho Pinto – Professora pública e a grande pioneira na luta contra o analfabetismo no Espírito Santo. No Município de Cachoeiro de Itapemirim, desenvolveu uma luta sem tréguas, criando e dirigindo quarenta e um postos da “Campanha de Alfabetização no Espírito Santo”, sediada naquele município. A “Louca do Itapemirim”, como se tornou conhecida por desenvolver um trabalho difícil e nem sempre compreendido, enfrentou e venceu muitas barreiras de preconceitos.

Destaco ainda, no século XIX, com a chegada das mais diversas nacionalidades de imigrantes europeus, registre-se o trabalho estoico da mulher imigrante, enfrentando mosquitos e adversidades em busca de sua aculturação, abrindo picadas nas matas, sucumbindo, muitas delas, ao tifo e à febre amarela. Essas mulheres de tanta coragem integram o destino histórico que, a partir das grandes colheitas nos cafezais, permitiu novos caminhos e novos horizontes, em termos de desenvolvimento econômico para o Espírito Santo.

Nos dias atuais, estamos acompanhando uns dos maiores momentos de empoderamento da mulher capixaba. Temos ciência da importância de muitas, principalmente no cenário político do Estado, mas quero destacar, nesta, a candidata a vice-governadora de Casagrande, Jacqueline Moraes, que até tão poucos dias estava determinada a disputar uma vaga no congresso, como parlamentar federalista.

Jacqueline vem de uma história simples, de cor negra, natural da cidade de Duque de Caxias – RJ, veio para o Espírito Santo em 1986 e, em sua trajetória de vida, ocupou o cargo de presidente da Associação de Moradores do Bairro Operário por dois mandatos e também esteve à frente da Associação de Vendedores Autônomos do Estado do Espírito Santo por um mandato. Candidatou-se ao cargo de vereadora em 2012 na cidade de Cariacica-ES. Sua candidatura foi em uma coligação isolada. Sua atividade de trabalho até em tão era de vendedora pracista, representante comercial, caixeiro-viajante. Jacqueline buscou amparo técnico em sua graduação, no curso de Direito, casada, foi eleita com 2.562 votos. Logo ocupou a 1ª Vice-presidência da Mesa Diretora da Câmara, cujo papel é gerenciar os trabalhos legislativos e cuidar da gestão administrativa da Casa de Leis. A vereadora ficou conhecida na cidade por seu trabalho itinerante, denominado “Jack Móvel”, que percorreu as comunidades e acolheu as demandas de melhorias indicadas pelos moradores dos bairros visitados por ela e sua assessoria.

Poderia o PSB de Casagrande ter indicado tantas outras mulheres Estado afora, como fortes candidatas a vaga de vice-governadora, na qual, tem fortes nomes e toda a família concentram-se na política do Estado e do Brasil, mas isso não aconteceu. A indicação de fato, se deu à JaCqueline Moraes.

Estamos assistindo um caso inédito. Em uma candidatura puro sangue – Governador e vice do mesmo partido –, uma mulher negra, de uma história simples, e muito rica em ações voltadas as demandas da população, que pode, durante sua trajetória, igualar a D. Luiza Grimaldi (esposa do Donatário Vasco Fernandes Coutinho Filho) que governou o Estado em 1589 a 1593.

Jacqueline Moraes e o PSB de Casagrande, com certeza abrem um novo capítulo da história política capixaba.

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