ANCHIETA – CRAS tira o direito de ter direito

 

Famílias dormem na fila em Anchieta para garantir uma senha e serem atendidas durante a semana no Cras

 

 

O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) é a porta de entrada da Assistência Social. É um local público, localizado prioritariamente em áreas de maior vulnerabilidade social, onde são oferecidos os serviços de Assistência Social, com o objetivo de fortalecer a convivência com a família e com a comunidade.

Mas em Anchieta/ES, o Cras está violentando os direitos dos cidadãos que precisam ter acesso aos serviços ofertados no órgão, quando as obriga dormir na fila para conseguir uma senha. Elas não necessitam passar uma noite no sereno, no tempo para pegar uma senha e garantir um atendimento durante a semana, uma vez que, o Cras deve funcionar de 8h00 às 17h00, exclusivamente para atender as famílias e indivíduos em situação grave desproteção, pessoas com deficiência, idosos, crianças retiradas do trabalho infantil, pessoas inseridas no Cadastro Único, beneficiários do Programa Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), entre outros.

O vereador Beto Caliman esteve no Cras de Anchieta, na madrugada desta segunda-feira, 11 e encontrou dezenas de famílias ao relento, jogadas na calçada, tapadas de cobertor, à espera da abertura do órgão, às 08h00 para garantir uma das 35 senhas para realizarem novos cadastros único e atualizar outros para posteriormente serem atendidas durante a semana. “As 04:45 horas do dia 11/06/2018, fui verificar pessoalmente a situação da fila que pernoita em frente ao CRAS de Anchieta. Um choque de realidade, mulheres com crianças de colo, mãe e pais de família desde 23:00 horas do dia anterior para fazer um cadastro. As pessoas não entendem por que a Gestão da Prefeitura de Anchieta, no mínimo coloque um vigia para deixar as pessoas entrarem no prédio e ficarem mais confortáveis? Um frio castigando a população, 35 atendimentos por semana? Meus Deus, onde está a humanização do Centro de Referência de Assistência Social de Anchieta? Nosso gabinete preparou com carinho um lanche com cafezinho para estas pessoas que pernoitaram ou madrugaram na fila, devemos ser solidários, são nossos irmãos e irmãs”, interrogou Beto que gravou um vídeo e o mesmo já tem milhares de visualizações e compartilhamentos.

Na semana passada ganhou mídia estadual o Cras com o convite enviado aos vereadores para um Jantar Romântico, evento este que teria a pretensão de unir famílias e fortalecer vínculos, pelo menos foi esta a justificativa da Prefeitura, que fez questão de convidar os vereadores para acompanhar os trabalhos realizados pelo órgão. Nesta madrugada, Beto foi acompanhar e flagrou esta situação que expõe famílias em vulnerabilidade social em Anchieta.

Convém ressaltar que é função do Cras, promover a organização e articulação das unidades da rede socioassistencial e de outras políticas. Assim, possibilitar o acesso da população aos serviços, benefícios e projetos de assistência social, se tornando uma referência para a população local e para os serviços setoriais.

 

 

Até 2016 as famílias eram atendidas em horário de expediente

 

De segunda às sextas feiras, das 8h às 17h às famílias iam ao Cras para fazer solicitação de um determinado benefício. Era feira uma entrevista com o responsável pela família e a equipe técnica fazia uma visita domiciliar para averiguação do que foi dito dentro do Cras aos técnicos. Uma vez que a família estivesse dentro dos requisitos ou em vulnerabilidade social ela começava a receber essa cesta de alimentos por 1 ano e depois era reavaliado para saber se a situação ainda era a mesma. Depois do cadastro pronto o dia da entrega das cestas era dividido por bairros para evitar tumulto e as famílias da área rural recebiam as cestas em suas localidades dentro do Centro de Convivência do bairro, não era entregue na residência.  O caminhão da Secretaria de Assistência entregava na área rural pois as famílias não tinham recursos para pagar passagem e ainda dependiam do horário do ônibus.  Às vezes só tinha um ônibus de manhã e um no final da tarde. Antes de 2013 as famílias vinham de manhã buscar a cestas ficavam o dia todo na tua com fome, sem ir ao banheiro esperando ônibus.

Em 2013 em torno de 400 famílias recebiam a cesta básica e 300 vales feira. Em 5 de novembro de 2015, com a paralização da Samarco, foi necessário atender e cadastrar mais famílias devido ao desemprego, em torno de 600 famílias em 2016. Inclusive, funcionários desativados da Samarco que só tinham aquela renda.

A reportagem entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura e questionou por que as famílias estavam pernoitando na fila no Cras e interrogou sobre o funcionamento do Cras, uma vez que, na semana passada convidou os vereadores para um jantar romântico para que os mesmos acompanhem o trabalho realizado no órgão, e nesta semana dezenas de famílias esperam ao relento por uma senha. O espaço está em aberto para as devidas explicações da Prefeitura.

 

Violência Institucional

 

É aquela praticada nas instituições prestadoras de serviços públicos como hospitais, postos de saúde, escolas, delegacias, judiciário, Prefeitura Cras… É perpetrada por agentes que deveriam proteger as vítimas de violência garantindo-lhes uma atenção humanizada, preventiva e também reparadora de danos.

Sempre que nos referimos a violência, imediatamente nossa mente nos conduz aos tipos mais explícitos que conhecemos, como as guerras, terrorismo e a violência das grandes cidades contemporâneas. Entretanto, há um tipo de violação a condição humana que ultrapassa os tempos, não é uma característica das sociedades urbanas em seu reflexo contemporâneo, nem muito menos um reflexo do meio. É um tipo de violência muito mais sutil, porém, nem menos gritante.

Esta violência que não puxa o gatilho, mas entrega a arma as mãos da sociedade para que esta execute o desigual, é a maior violação da condição humana de nossos tempos. Indivíduo e sociedade travam um diálogo que muitas vezes se expressa na violência, e a junção destes desiguais que habitam o “paraíso” dos iguais e politicamente corretos, vem se tornando cada vez maior e a percepção de que a máquina não gira no mesmo sentido para todos, está expressa em movimentos de contestação social que vem reivindicar ao Estado, aquilo que este se propõe. É o caso, no Brasil do MST (movimento dos sem terra), MSE (movimento dos sem educação), os movimentos de reconhecimento e igualdade para os negros, entre muitos outros espalhados por este país, bem como pelo planeta.

Sendo assim, a violência que todos enxergam perpetrada a muitos povos, nada mais do que uma violência bem mais implícita e sutil, mas não menos mutiladora, do Estado democrático contemporâneo.

Historicamente, o Estado democrático é uma vitória. Entretanto, a luta pela igualdade continua. Qual a diferença entre aquele que puxa o gatilho, sentenciando a vida do próximo e o Estado que permite a miséria e morte disseminada pela sua sociedade, pela total incapacidade de gerir com competência e honestidade os recursos públicos que devem ter como fim as melhorias da qualidade de vida de sua população?

 

PREFEITURA EXPLICA AGENDAMENTO

 

O agendamento em questão era para o cadastro de famílias no sistema único do Governo Federal (CadÚnico). O cadastro/atendimento é minucioso e dependendo pode demorar de 40 minutos a uma hora. Antes, o agendamento acontecia mensal, porém as famílias não compareciam no dia marcado, lembrando que o cadastramento/atualização é determinação do Governo Federal.
Diante disso, o Cras mudou a estratégia, possibilitando o acesso a todas as famílias que necessitam do cadastramento com renda total familiar de até três salário mínimos ou meio salário mínimo por pessoa. Agora, o atendimento/cadastro é feito semanalmente por meio de agendamento prévio realizado todas as segundas a partir das 7h.
O Cras informa que não há necessidade das pessoas enfrentarem filas bem cedo, já que todas as famílias que tem perfil de CadÚnico, serão atendidas semanalmente.
Sobre as famílias atendidas pelo Benefício Eventual, cestas de alimentos, estamos concedendo quase trezentas cestas/mês, mas não há um número específico pois, o benefício é eventual, por exemplo, se uma família está dentro dos critérios para receber o benefício, talvez no próximo mês, não esteja. As assistentes sociais, que fazem a avaliação das famílias com visitas domiciliares, o contrário também pode ocorrer, temos família que recebem o benefício mensal.
Sobre o jantar romântico, pode acontecer de ter alguma família, os usuários do PAIF também participam dos eventos do CRAS; Dia das Mães, Dia Internacional da Mulher, Carnaval e outras datas comemorativas afim, pois  o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), o “PAIF deve ser obrigatoriamente ofertado no CRAS. Não existe CRAS sem a oferta do PAIF”. (Tipificação dos Serviços Socioassistenciais).

 

 

 

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